Na sua citadíssima undécima tese sobre Feuerbach, Marx concitou a filosofia a mudar o mundo em vez de limitar-se a interpretá-lo. O problema do marxismo pós-Marx é que, historicamente, ele seguiu à risca a prescrição: sem dúvida nenhuma, alterou a face do mundo moderno -- mas não se pode dizer que o tenha interpretado de maneira intelectualmente satisfatória. Quando o marxismo ocidental, nascido, na década de 1920, o do espírito revolucionário, ganhou impulso, nos trinta anos que se seguram à segunda grande guerra, passou a proclamar a necessidade premente de repensar tanto a teoria marxista quanto a sua relação com o a práxis social.
O presente estudo é uma tentativa de avaliar criticamente os resultados principais desse esforço teórico. Reflete, espero, inúmeras e vigorosas trocas de ideias sobre o marxismo e seus problemas com mentes de primeira ordem, nenhuma das quais, naturalmente, responsável pelas opiniões aqui expressas, Raymond Aron, Leszek Kolakowski, Ernest Gellner, Fernando Henrique Cardoso, Perry Anderson, Leandro Konder, Roberto Schwarz, Carlos Nelson Coutinho, John A. Hall, F. A. Santos.
Agradeço a Hélio Jaguaribe a hospitalidade do seu Instituto de Estudos Políticos e Sociais, onde esbocei, em 1984, a maior parte da minha análise da Escola de Frankfurt. Graças a uma oportuna sugestão de Celso Lafer, pude precisar melhor, nesta edição, a posição do conceito hegeliano de sociedade civil. De certo modo, pensei este livro anos a fio -- mas jamais teria conseguido escrevê-lo em apenas um outono sem a ajuda e o estímulo dos meus amigos e da minha família.
José Guilherme Merquior - Londres, junho de 1985.
Política / Sociologia