Em "O Nariz do Morto", considerada obra-prima do autor e publicada originalmente em 1970, Villaça apresenta as memórias de um niilismo trágico. Em seu livro de estréia, o autor fala da crise existencial que o levou a passar anos em um mosteiro, criando um texto marcado pela angústia, mas cheio de lirismo. Mais do que a história de uma alma, trata da história de um corpo. Por entre as páginas, caridade e rancor. Um rancor flaubertiano, insinuado em alguns dos melhores retratos dos homens com quem conviveu e debateu Villaça. E sobretudo na principal personagem de um livro povoado por numerosas e grandes presenças dramáticas, o próprio Villaça, vestido de Lelento e depois de Segismundo, lanhado de perguntas e perplexidades, por quem é pequena a compaixão do autor.Nós o acompanhamos, no livro, desde o nascimento, "o menino roxo, nu, sobre a mesa de mármore", até a fuga de Segismundo, novamente "menino, cansado talvez". Seguimos uma experiência de sofrimento e sonho, nas páginas admiráveis em que se retratam a infância, o mosteiro, a busca, o desencontro e a crise. Defrontamos com uma vida abundante, em seu vazio aparente, com outra "frágil elegia", como diz Villaça, a repetir Amiel, com uma dessas biografias singulares, em que a história de um homem se faz nossa.
Biografia, Autobiografia, Memórias / Comunicação / Literatura Brasileira