Lukács: ontologia e alienação é um texto em tudo peculiar. No quadro
da produção teórica contemporânea, pode-se dizer que é um
texto único.
Primeiro, pela sua história. Na década de 1990, Norma Alcântara
decidiu enfrentar o problema da alienação tal como tratado por
Lukács em sua Ontologia. O mestrado foi consumido nessa pesquisa,
resultando em uma dissertação com indicações promissoras que
conduziram a pesquisadora ao doutorado. Anos depois, quando da
defesa, a pesquisa estava longe de ser concluída – não pela falta de
dedicação da autora, mas pela complexidade do objeto. Passaram-se
anos, sete em minha conta, até que o texto chegasse ao ponto desejado
pela autora para sua primeira publicação.
Muito diferente dos, hoje tão frequentes, textos apressados, publicados
ainda imaturos e que precisam ser seguidamente refeitos,
a autora nos oferece um texto denso, equilibrado e solidamente
fundado. O leitor encontrará um texto maduro, em que cada frase
e parágrafo passaram por reavaliações e foram reescritos inúmeras
vezes. As conexões do texto lukacsiano foram perseguidas meticulosamente.
Nada foi deixado ao acaso.
A segunda peculiaridade do texto que o leitor tem em mãos é seu
objeto. Desnecessário relembrar a história dos textos que Lukács
deixou sob a forma de manuscritos inacabados, entre eles o da Ontologia. Desnecessário, ainda, relembrar as dificuldades impostas ao pesquisador por esse caráter inacabado desses textos, dificuldades
que se intensificam pela perspectiva inovadora que propõem na interpretação
das teses de Marx e Engels. Contudo, é preciso discorrer,
ainda que brevemente, sobre o Capítulo da Ontologia dedicado à
alienação, para termos a dimensão da peculiaridade de Lukács: ontologia e alienação.
Filosofia