O ditado diz que não se deve discutir política e religião. Mas “Os Bichos”, do cubatense Manoel Herzog, aborda esses temas de forma inteligente, irônica, e crítica, que podem e merecem gerar reflexões. É a chance do leitor adentrar a um universo envolvente, que ainda mistura tarô, natureza, a monarquia francesa, num caldeirão que mira a situação política brasileira.
Na obra alegórica, Herzog traça um paralelo entre o urubu, ave que nasce branca e vai escurecendo conforme se alimenta de sujeiras, e o ser humano, que chega à vida puro, mas se contamina com os males da sociedade. A trama acompanha um jovem idealista, que se apaixona pela filha de um político corrupto e acaba fazendo concessões para se aproximar da amada. “Tinha iniciado uma série de contos escritos em primeira pessoa com as vozes desses animais, como um cachorro que viveu comigo durante 16 anos. Tem 10 animais que permeiam a narrativa do livro. E a história se desenvolve por um narrador onisciente, em terceira pessoa, e vai nessas duas linhas - seguem em paralelo e se encontram no final”, explica o autor.
"As alegorias são uma forma direta de crítica dos costumes e serviram de base para o humanismo avançar um milímetro na direção da vida do espírito, evocada por grandes como Montaigne e Leopardi. Neste ‘Os Bichos’, de Manoel Herzog, temos um tipo mais sofisticado de alegoria, onde a ironia sutil é capaz de forjar um pensamento denso, que se alimenta de uma rica simbologia”, define o conterrâneo e celebrado escritor Marcelo Ariel, na contracapa do livro.