Trecho da obra:
"Também não sabia dar conta à conversa com o seu Floremundo. E este, esfregando as mãos, paciente, esperava. O estudante foi no alpendre, foi no quarto, encontra no chão o Francês sem Mestre, o segundo volume de Os Miseráveis, a oração de Santa Rita dos Impossíveis para mandar ao pai, o Castro Alves, as cartas de Raul – Nini mexeu ou não me lembro se deixei assim desarrumado. Sem abrir a luz no quarto, abriu o atlas, abriu na África, aquela costa, ali aqui, de onde, de onde o brigue que trouxe aquele bisavô e a que preço? O deserto, o oceano, os leões, a esfinge, pulavam, bêbados, na lição de geografia. Mas não podia nem rir do mestre pois no chalé, quem sabe, ia a mãe, fechada na despensa, enxergando no caibro as bonecas – que nunca levou de Belém – da filha morta, as bruxas de pano desfeitas pela chuva.
Tal suposição, por mais exata, era trair a mãe, ofendê-la, expô-la diante de um público, esse ,que povoa a consciência dele. Abre o caderno e olha com surpresa: que é feito do ginasiano?
Quem estuda neste quarto? Estou passando um calote. De cima do telhado, Luciana o espiava. Os livros o espiavam. Ser é sentir-se espiando.
Agora no pescoço o tucumã com um contrafeitiço dentro. Deus? Deus? Nem podia mais catar os cacos de Deus, metê-los no carocinho. Deus? Naquele ano, pela cidade acesa de velórios de anjo, as moscas nasciam do corpo podre do Senhor Morto. A noite, esta, encalhou?"
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“A flora e a fauna estão presentes e se revelam por inteiro nesse “Os Habitantes” que soma um título a mais na obra cíclica de Dalcídio Jurandir e que dá conotações mais brilhantes às personagens que transmitem valor humano. É gostoso ouvir-lhes a fala que denuncia certa ternura no tratamento. Há respeito pelos mais velhos. Ama-se esta nação e se lhe deseja um futuro melhor. Protesta-se contra injustiças, que não podem e não devem persistir as explorações. A região está em parte virgem a penetração do homem.”
- Jornal Gazeta Comercial, 1976
Literatura Brasileira / Romance