perpétuo

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Exumação. Máscara Mortuária. Inscrição Lapidar.

A morte tem um vocabulário próprio.

Como você lia os textos sobre morte?

Como você lê os textos sobre morte agora?

Nós, Agora, Brasil, 2021.

Anos atrás, quando li Perpétuo pela primeira vez ficou comigo a coceira: a imagem de feridas da cabeça que vão se espalhando pela casa, cada ferida uma ideia, se tivessem me perguntado eu teria dito Sim, eu entendo o que é a morte. Mentira.

Agora está tudo diferente. Perpétuo, como a própria morte, está ao mesmo tempo conosco e além de nós. Agora presto atenção nos túmulos, pequenos demais para o tamanho do caixão, penso nos ossos maiores, em corpos dobrados, carne que não cabe. Nosso país não cabe, não existe mais como existia antes, nossos mortos já são muitos, na nossa cabeça, Daniele ecoa uma mensagem que parece vinda direto do subterrâneo: os mortos do país são os mortos da sua família, não existe país, não existe família. Qual é mesmo a identidade do morto? Quem fala e escreve diários em Perpétuo? São vozes de braços amarrados, as pontas dos dedos com sangue, pedindo que não se chame quem está indo, muitas ideias na casa em silêncio. A morte tem um vocabulário próprio, isso Daniele me mostra enquanto junta mistérios, objetos pequenos, restos mortais: todo o espólio. Do que vale o que fica? Na nossa língua existem muitas expressões para evitar o vocabulário da morte, Perpétuo não quer evitar, prefere páginas escuras, números de inscrição, epitáfios. Alguém, apesar de tudo, abre a boca para dizer, não existe romantização, não existe superação, existe sim uma maneira de continuar vivendo. Penso na falta de ar, na tontura, na confusão mental, eu penso nas pessoas que não estarão mais nas fotos: eu quero chorar, mas em vez disso eu me coço. Depois de Perpétuo eu posso soltar as mãos, encostar os dedos na cabeça, existe a minha cabeça, existe a terra. Me coço e sei que estou aqui com você, Dani, vivas.

Julia Raiz

Literatura Brasileira

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Guylherme Custó
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Guylherme Custó
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