Florbela de Alma da Conceição Espanca é um fulgurante mistério da poesia portuguesa. Seus primeiros livros foram publicados no início do século 20, quando o simbolismo dava os últimos suspiros e as vanguardas eclodiam em Lisboa, trazendo à luz Fernando Pessoa, Almada Negreiros e Mario de Sá-Carneiro.
Nemantigos nem modernos, os versos de Florbela continham um verbo tão firme e inclassificável que acabaram levando-a às portas do tempo novo. Com eles, a poeta descerrou para a literatura portuguesa esse mundo então pouco conhecido, muitas vezes ocultado, do desejo feminino, que ela chama simplesmente de "amor".
Trafegando entre os "reinos da Ansiedade" e o "mar de chamas", Florbela deixou soar sem acanhamento todos os impasses desse desejo encarando na poesia: a dor e o júbilo, a confissão e o apelo, a expectativa e a inquietude, o desalento e a intensa expressão da sensualidade - justamente o que mais perturbou a critica conservadora, que tentou, em vão, silenciar essa poeta pioneira e audaciosa, de "cabeleira desatada".
Alcino Leite Neto
Editor Três Estrelas
Poemas, poesias