Resenhas - Brasília, coração do Brasil

z..... 28/07/2022

A edição é curiosa, por ser considerada a primeira HQ sobre Brasília (publicada mais de um ano antes da inauguração) e ter sido ferramenta de divulgação da construção, sob encomenda do presidente JK à EBAL, contando com vários colaboradores (JK, Niemeyer, entre outros).

No que se refere a concepção gráfica, a EBAL teve ilustradores excepcionais, mas o dessa edição deixou a desejar.
O roteiro se desenrola exaltando o projeto em andamento como uma conquista da humanidade no universo. Parece engraçado, mas vemos isso nas entrelinhas, com a construção evocando o cosmo em tempos remotos, a formação da Terra, do Planalto Central, e subsequente conquista e ocupação pelos homens, onde a construção de Brasília se apresenta com aval profético (associado à Dom Bosco) e como o melhor da modernidade.
O texto é bastante formal, seguindo a estética do contexto, o que torna a leitura pouco atrativa ou dinâmica na atualidade, mas tem curiosidades a seu modo intetessantes.
Já a história em si é sobretudo ufanista, estimulando empatia e adesão popular às iniciativas do governo e suas metas.

Tenho uma crítica à configuração da edição... É que em suas múltiplas exaltações, seja ao passado, presente e futuro sobre a cidade em construção, foi falha histórica gigantesca nenhuma referência digna aos candangos, personagens que se misturam de maneira fundamental à essa realização.
E vale também uma observação sobre a abordagem histórica da construção (não é crítica, apenas informação somatória)... A edição foi publicada em Janeiro de 1959 e exatamente nesse contexto ocorreu tragédia na construção que não pode ser olvidada na gênese de Brasília nos estudos da atualidade: a morte de um dos principais engenheiros e coordenador (Bernardo Sayão) da construção da rodovia Belém-Brasília, atingido por queda de árvore gigantesca em uma de suas prospeções na obra (a história em si é ilustrativa à visceralidades que ocorreram, impactanto o trabalhador de muitas formas nessa obra grandiosa, mas não essencialmente romântica, também super dramática em peculiaridades inimagináveis e esquecidas).

Admito que a HQ tem disposição hoje pouco convidativa para leitura, mas vale a conferida pela importância histórica, a interessados e curiosos sobre o tema.

Leitura nas férias em Brasília...