Naiana 15/02/2022
Tem como chocar mais?
Como descrever esse terceiro volume de Punpun? A vida de Punpun desde que o conhecemos não foi fácil, vivendo em um ambiente tóxico, menosprezado pela família, sendo muitas vezes invisível, Punpun afunda cada vez mais em sua depressão. Neste terceiro volume iniciamos com Punpun concluindo o colegial e iniciando o ensino médio, ele aparenta tentar superar seus problemas e se enturmar, já não tem contato algum com seus antigos amigos de infância e se a vida dele já não era fácil, ela desanda de vez, como superar os acontecimentos do final do primeiro ato? Muito difícil, difícil entender como uma pessoa como aquela poderia cometer tal ato...
Após esse primeiro ato temo um pequeno alívio no segundo, que mostra um pouco da vida de Shimizu e Seki, como a amizade deles perdura e essa parte do mangá até chega a trazer um pouco de esperança ao futuro, apesar das dificuldades, Shimizu e Seki ainda tentam seguir com suas vidas, trazendo reflexões menos pesadas. No terceiro ato a relação de Punpun e da mãe degrigola consideravelmente, mas conhecemos mais da mamãe Punpun, como foi sua vida, suas frustrações e desejos de ser uma pessoa melhor, neste ato temos de volta um dos amigos de infância de Punpun, mas o contato dele é apenas com a mamão Punpun, gostaria de ter vito o reencontro desses dois amigos, mas infelizmente isso não ocorre. O último ato vem com mais avalanches de sentimentos a Punpun, o pai mais ausente que nunca e Punpun mais isolado ainda, a relação com a mãe totalmente inexistente, só na base dos gritos, o final mais triste até então, e perspectiva de que as coisas possam melhorar não existe nenhuma. Acho que esse é o máximo que dá para se resumir da trama sem dar spoiler, mas o que ficou em mim de tudo isso? Marcas, muitas marcas do sofrimento de uma alma que não teve sorte na vida, como uma família desestruturada e tóxica pode destruir uma criança. Punpun tinha tudo para ser uma boa criança, um bom rapaz, um bom adulo, e mesmo tentando muito, sua perspectiva da vida é que ele nunca será feliz ou amado, tentar fugir da depressão parece impossível e como não seria, se não há uma única pessoa que enxergue Punpun, que veja tudo o que ele passa, que o estenda a mão e lhe dê um pouco de carinho, esperança e fé. Esperar que as coisas melhorem nos próximos volumes é impossível, só resta esperar que não piore mais, mas... tenho sérias dúvidas sobre isso.
Inio Asano com seu texto dá um tapa na cara da sociedade sobre como as pessoas tendem a ser individualistas e egoístas, só enxergando seus problemas e ignorando o sofrimentos daqueles que estão ao seu redor, mesmo as "melhores" pessoas tendem a, no mínimo, ter uma visão míope da vida, apenas sob sua lente, sem ver que para os outros as condições e situações que a vida lhes impôs possam levar a verem o mundo de uma forma completamente diferente. Os gráficos continuam fantásticos e muitas vezes de uma delicadeza e sutileza que tornam as situações muito mais viscerais. Punpun quando deprimido se ver sob uma sombra, assim como quando se sente bem e autoconfiante se sente maior, ao passo que quando sente medo está pequeno de novo, é fantástico a forma como ele mostra essas diferenças nas personalidades e sentimentos dos personagens. A leitura é válida, mas é bem pesada também, levando a necessidade de algum tempo para digerir certos momentos as vezes...