Santa Sofia não era a única propriedade dos Bento. Donos de 32 fazendas, eles formavam um dos casais mais ricos e férteis de Minas Gerais, na metade do século XIX. Em 28 anos de casados, haviam gerado 26 filhos — esforço demais para uma só mulher, mesmo para a tinhosa e forte Sofia Bento, que “expira de tanto parir”. Com uma prosa refinada e sonora, no melhor estilo de Guimarães Rosa e Nélida Piñon, Angela Abreu conta, em Santa Sofia, a história dessa mulher um tanto santa, outro tanto diabólica.
Enquanto o corpo de Sofia é velado, recordações de traição, luxúria e dor vão se descortinando. É neste entrecorte da narrativa, neste fluxo de pensamento, que o leitor vai conhecendo a vida de uma mulher capaz de atos perversos e outros de extrema bondade, mas que a essa altura não pode mais se defender. Mas quem era, realmente, Sofia? Quem era aquela mulher capaz de obrigar a filha a se casar com um barão falido e tedioso e salvar da morte um filho bastardo do marido? Menina rica de berço, feia por natureza, decide tomar as rédeas de sua vida e casa-se com um tropeiro pobre, mas bonito. O amor estranho e velado entre os dois os aproxima e os repele durante os anos de casamento. Vivem afastados: ela cuidando dos filhos, ele trabalhando, ou na farra com as negrinhas.
Santa Sofia é uma bela história, poética; uma espécie de canto brotando de um imaginário interior de Minas Gerais, repleto de cenas trágicas, causos engraçados, sensualidade e aventura. Segundo romance da jornalista Angela Abreu, o livro alia cenários coloniais ao empolgante relato da saga de um clã mineiro.