Houve um tempo em que estadistas ilustres – como Churchill e De Gasperi – e intelectuais de primeiro plano, como Croce, Arendt, Bobbio, Thomas Mann, Kojève, Laski – olharam com respeito, simpatia e até com admiração para Stalin e para o país liderado por ele. Com o início da Guerra Fria, primeiro, e depois, sobretudo, com o Relatório Kruschiov, Stalin virou um “monstro”, talvez comparável apenas a Hitler. Daria prova de falta de visão quem quisesse identificar nessa virada o momento da revelação definitiva e última da identidade do líder soviético, deixando de lado com desenvoltura os conflitos e os interesses nas origens da virada. O contraste radical entre as diversas imagens de Stalin deveria levar o historiador não mais a absolutizar uma dessas imagens, mas a problematizar todas. Neste volume – ensaio histórico, historiográfico e filosófico ao mesmo tempo –, Domenico Losurdo faz precisamente isso, ao analisar as tragédias do século XX, fazendo comparações em todo setor e desconstruindo e contextualizando muitas das acusações feitas a Stalin, o que não deixará de suscitar vivas polêmicas.