Tela Total

Tela Total – mito-ironias da era do virtual e da imagem é um livro com uma trajetória incomum: saiu primeiro no Brasil, por iniciativa da Editora Sulina, e só depois na França, onde teve grande repercussão. A obra reúne uma série de artigos publicados por Jean Baudrillard no jornal parisiense Libération. Ao contrário do que se poderia imaginar, não se trata de uma coletânea dispersiva de textos menores de um grande pensador. Todo o Baudrillard está em essência nas páginas que seguem.

Baudrillard é um teórico diferente. Sabe escrever. Melhor do que muitos romancistas. Opera com dois mecanismos impiedosos, a ironia e o paradoxo. O leitor desatento, às vezes, pode considerá-lo difícil ou pessimista. Engano absoluto. Baudrillard situa-se fora do eixo pessimismo/otimismo e longe da pieguice que consiste em crer, por medo do niilismo, por obrigação em alguma coisa. Seu texto é visceral, maldito, extremo, genial.

Há um personagem de Robert Musil que se desiludiu com a palavra genial depois que a ouviu empregada a um cavalo. Jean Baudrillard recuperou esse qualificativo. No seu caso, a palavra não tem qualquer valor superlativo. Somente de constatação. Esta nova edição de Tela total mostra o homem de idéias em situação, aplicando a objetos concretos a sua forma de pensar. O resultado é surpreendente, arrasador, até mesmo hilariante. Impossível compreender o mundo contemporâneo sem mergulhar nas imagens e nas figuras de Baudrillard.

Pós-moderno malgré lui-même, Jean Baudrillard demonstra, sem qualquer esforço, que pensar exige uma forma, uma nova forma, a capacidade constante de estranhamento. Os humoristas adoram provocar identificação. Os irônicos, franco-atiradores, existem para distribuir bofetadas metafísicas e literárias. Com Baudrillard, a sociologia e a filosofia são apenas dois modelos narrativos não necessariamente mais precisos do que a ficção. Por isso, enxerga o que os outros não vêem. E ilumina o que as demais teorias obscurecem.