A ideia fundamental da teoria da reprodução social (TRS) é, simplesmente, que o trabalho humano está no centro da criação ou reprodução da sociedade como um todo. A noção de trabalho é concebida aqui no sentido original pretendido por Karl Marx, ou seja, como “a primeira premissa de toda a história humana” — e que, ironicamente, ele próprio não conseguiu desenvolver plenamente. O capitalismo, no entanto, reconhece o trabalho produtivo para o mercado como a única forma legítima de “trabalho”, ao passo que a enorme quantidade de trabalho familiar e comunitário que continua a sustentar e a reproduzir o trabalhador ou, mais especificamente, sua força de trabalho, é naturalizada como inexistente. Contrários a essa interpretação, os teóricos da reprodução social compreendem a relação entre o trabalho que produz mercadorias e o que produz pessoas como parte da totalidade sistêmica do capitalismo. A teoria procura, assim, tornar visível o trabalho analiticamente oculto pelos economistas clássicos e politicamente negado pelos formuladores de políticas. […]
A TRS nos dá a oportunidade de refletir sobre as diversas maneiras pelas quais o momento neoliberal nos forçou a reavaliar a potência e a eficácia de certos termos anteriormente não contestados na tradição marxista. Categorias conceituais como “classe”, “economia” ou mesmo “classe trabalhadora” não podem mais ser preenchidas com os dados históricos do século XIX que estavam disponíveis para Marx. Isso não as invalida como categorias. Em vez disso, nosso tempo histórico exige que nos envolvamos rigorosamente com essas categorias e que as façamos representar nossa própria totalidade político-histórica.
— Tithi Bhattacharya, na Introdução.
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