Embora o livro de Jean de Léry tivesse sido, mais do que qualquer outro de sua época, traduzido e reeditado, não há dúvida de que fazia falta uma boa edição brasileira cuidadosamente feita e comentada.
De fato Viagem à Terra do Brasil tem um valor excepcional como documento histórico, etinográfico e até musical. No seu livro estão registrados dois cantos tupis: os documentos mais antigos que possuimos de nossa música ameríndia. Nas suas páginas escritas com um sabor delicioso, na lingua francesa tão pitoresca hoje em dia, do século XVI, está toda a história da malograda França Antártica.
Lido em seu tempo como livro de viagens e aventuras, de grande sucesso, traduzido para o holandês, o alemão e o latim(língua universal de então), nosso calvinista gozou de popularidade até o século XVIII. Outros viajantes, outras terras exóticas de selvagens e outras preocupações também, vieram desviar a atenção dos amadores de história e aventuras. Com os anos que passavam, Léry perdia a atualidade e, de livro para grande público que era, foi-se transformando, aos poucos, para simples documento para eruditos e historiadores.
Acresce que o preço alto e a raridade das primeiras edições da obra de nosso cronista francês vinham ainda dificultar a leitura de um dos livros mais interessantes e instrutivos sobre o Brasil do primeiro século.