"Vigilia del almirante" do escritor paraguaio Augusto Antonio Roa Bastos (1992) -- (Biblioteca Hispano-Americana, Coleção Iguaçu, Editora Mirabilia (2003) [ISBN: 8589673014]. Tradução de Josely Vianna Baptista; ilustrações de Jeanete Musatti. |...| Um romance que narra o descobrimento da América pela voz do próprio navegador, o Almirante do Mar-Oceano Cristóvão Colombo. O livro é um bom exemplo da ficção histórica que se tornou a marca de Roa Bastos. Ele toma como base as narrativas clássicas da aventura de Colombo e preenche suas lacunas com situações hipotéticas – e uma boa dose de divagação ensaística. Mostra, por exemplo, como os colonizadores eram figuras rudes, bem de acordo com sua época, e como a miscigenação entre brancos e indígenas se deu inicialmente como uma violação pura e simples das nativas! O estilo de Roa Bastos se aproxima do de outros escritores de sua geração que tinham um nítido apego ao virtuosismo formal. Não à toa, ele é fã dos livros de João Guimarães Rosa, de quem foi amigo pessoal. Roa Bastos começou a escrever 'Vigília do Almirante' nos anos 40, mas só o concluiu em 1992. A razão disso é que, ao sair do Paraguai às pressas para escapar da repressão do então ditador Higinio Morínigo, não teve tempo de levar seus originais. Só cinco décadas mais tarde voltaria à região de Guairá, onde viveu, para recuperar os textos. |...| Augusto Roa Bastos apresenta sua obra como 'um relato de ficção impura, ou mista, oscilante entre a realidade da fábula e a fábula da história. Sua visão e cosmovisão são as de um mestiço de 'dois mundos', de duas histórias que se contradizem e se negam'. Narra um espetáculo verbal que tem como substrato um profundo conhecimento da História da América. Nessa prosa de grande poder imagético, em que se mesclam recursos poéticos modernos a arcaísmos, é central o conceito da História como produto da ficção. Este texto, quer recuperar a carnadura do homem comum, obscuramente genial, que produziu sem saber, sem se propor a isso, sem sequer pressenti-lo, o maior acontecimento cosmográfico e cultural registrado em dois milênios de história da humanidade. Com o viço de sua linguagem e sua agudeza crítica, Vigília do Almirante se impõe como uma das obras luminares da literatura de nosso tempo.