Aione 20/11/2015Baía da Esperança é o quarto livro de Jojo Moyes que leio em 2015, e a cada novo título que tenho prazer o prazer de conhecer, fico cada vez mais admirada com o talento da autora e ansiosa para ler suas demais obras.
Nesse romance, temos, de certa forma, várias histórias em uma, que se desenrolam no cenário da Baía da Esperança, baía remota na Austrália. O ponto de partida se dá quando Mike, empreendedor, parte para lá a fim de realizar pesquisas acerca da construção de um resort de luxo que a empresa na qual ele trabalha pretende construir. Inicialmente, seu interesse é puramente financeiro; conforme, porém, ele vai conhecendo o local, as histórias de lá e o interesse dos habitantes pela vida marítima que os cercam, seus valores vão sendo pouco a pouco modificados. Ao mesmo tempo, conhecemos também a história de Kathleen, a senhora dona do modesto hotel onde Mike se hospeda, além de Liza, sua reservada sobrinha que guarda consigo profundos segredos.
“Nunca houve noite demasiadamente fria para me fazer fechá-la por completo. Ali, dois andares acima, eu podia ficar em paz com meus pensamentos e, quando sozinha, chorar sem ninguém ouvir. Eram as únicas vezes em que fechava a janela, para que o ar não transportasse qualquer som por mim proferido às tripulações de observação de baleias ou a ouvintes dispersos embaixo.”
página 120
Algo que já notei em outros livros da autora é que tenho certa resistência a me envolver com suas tramas no início de cada livro, e aqui isso não foi diferente. Levei quase 50 páginas para, de fato, mergulhar no enredo – e então foi praticamente impossível querer me desligar dele. Através da narrativa em primeira pessoa, os capítulos se alternam de acordo com a visão de diversas personagens – Kahtleen; Liza; Hannah, filha de Liza; e, sobretudo, pela de Mike -, algo que, acredito, me permitiu um maior envolvimento, visto que o contato com as emoções de cada personagem foi muito maior e mais intenso. Há, também, alguns poucos capítulos narrados por personagens secundárias. Essa alternância, também, possibilitou tanto uma visão mais ampla da trama, quanto o encobrimento dos segredos do livro, o que contribui para que a curiosidade do leitor seja aguçada.
Baía da Esperança é um livro sobretudo sensível; Jojo Moyes descreve cada cena com emoção e delicadeza, criando, assim, diversas belíssimas cenas. Os momentos em que são narrados os comportamentos das baleias e golfinhos da baía são ternos, ainda mais quando associados ao carinho de cada personagem por esses animais. E essa percepção de Moyes ao captar nuances tão tênues vai além, alcançando as personagens, permitindo que as mudanças vivenciadas por cada uma sejam não apenas compreendidas pelo leitor, mas também sentidas.
“Tenho absoluta certeza de que eu jamais poderia ser descrita como ‘alegre’, mas Kathleen uma vez me disse desconfiar de que eu me sentia tão ligada às baleias porque eram criaturas solitárias. Não há tal ligação entre baleia macho e fêmea – pelo menos duradoura, de qualquer modo. O macho não desempenha qualquer função paterna, por assim dizer. Ela não acrescentou que as fêmeas não são monogâmicas – àquela altura, não era necessário -, mas mães admiráveis. Vi uma corcunda correr o risco de encalhar para aninhar o filhote. Ouvi os cantos de amor e perda romperem o silêncio das partes mais profundas do mar, e chorei com eles. Nesses cantos, a gente ouve toda a alegria e dor de qualquer mãe fascinada pelo coração do bebê.”
página 227
Emoção, inclusive, é uma excelente palavra para descrever minha relação com essa leitura. Embora o começo tenha sido ligeiramente vagaroso para mim, não consegui me desligar do livro, como comentei, após ter me envolvido. E, desde esse instante, fui tomada por diversas emoções, que culminaram em uma intensificação total nas praticamente 100 últimas páginas da história. Quando o passado de Liza é revelado, foi impossível não sucumbir a sua dor, e o conflito no enredo deixa de ter como foco a complicada questão que envolve a construção do resort na baía. A partir de então, não consegui interromper a leitura, e me vi sendo tomada por uma avalanche de diferentes emoções. E Jojo Moyes conseguiu me surpreender ao final, trazendo, ainda, reviravoltas extremamente comoventes.
Baía da Esperança ficou lado a lado com Como Eu Era Antes De Você entre minhas obras favoritas da autora, e me sinto incapaz de decidir de qual delas mais gostei. Chorei de alegria e tristeza, torci pelas personagens, refleti sobre as vivências de cada uma. Baía da Esperança é um livro que traz, sim, um romance entre um homem e uma mulher, mas esse permanece em segundo plano; o primeiro, indubitavelmente, é o amor, em todas as suas formas e versões. Um livro que indico de olhos fechados aos românticos de plantão!
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