Samantha.gifalli 27/02/2018
Uma leitura de folego
Já falei tanto do livro por aqui e não consegui elaborar algum texto que fique a altura desta obra.
O livro de Émile Zola é de 1885, é o décimo terceiro da série Os Rougon-Macquart: história natural e social de uma família sob o segundo império. Nesta série, Zola a partir da descrição naturalista, retrata uma família que se desdobrará em 20 personagens pelos quais o autor fará uma fortíssima crítica social.
Não sei o por quê, mas não temos a saga inteira publicada no Brasil, sendo o Germinal a obra que representa os seus 20 irmãos. E o faz com tremenda maestria.
O livro retrata a história de Étiene Lantier (um dos filhos dos Rougon-Macquart, pelo que pude entender), um mecânico que após ser demitido de uma fábrica em plena crise industrial na França, passa os dias caminhando aleatoriamente a procura de fogo (inverno francês) e comida. De repente ele se depara com a Voraz, uma gigante mina de carvão, em que se aproxima das caldeiras para poder se aquecer. A partir deste momento, as condições de vida e de trabalho começam a ser descritas pelo autor com a riqueza de detalhes que só quem viveu na pela pode reproduzir (e o autor de fato trabalhou em uma mina durante um período para compor o romance). A fome, o calor, a insalubridade e - principalmente - a submissão, são os elementos que o autor utiliza para descrever os personagens.
Com base no naturalismo, Zola explana sobre as questões partindo das condições físicas e sociais. O autor passeia entre as condições internas naturais (instinto, violência, sexualidade) e as condições externas do ambiente físico e social (fome, calor, desigualdade, miséria) para determinar as ações dos personagens.
Neste passeio, Emile Zola trata de uma greve de mineiros nos primórdios da primeira internacional, descrevendo assim as principais angústias deste movimento político: as divergências entre revolucionários socialistas ou anarquistas e os reformistas; a questão da centralidade política e a vanguarda revolucionária e intelectualidade orgânica. Além dessas questões, o autor passa pelos conflitos de egos e os efeitos das ações individuais que ganham corpo e forma no coletivo para além das melhores intenções.
Com uma linguagem simples e uma leitura fluida, o autor trata da divisão de classes, que acumulação de capital e da questão da mais valia.
Uma leitura dura, mas para lá de necessária para aqueles que se dispoem a sair da zona de conforto e criar empatia. Uma verdadeira catarse em tempos de ódio.