tiagonbraz 30/10/2022
Como Ler Livros, de Mortimer Adler
"A pessoa que diz que sabe o que pensa, mas não consegue expressar-se em palavras, na verdade, não sabe o que pensa."
Como Ler Livros, de Mortimer Adler, é um clássico. Eminentemente prático, é um guia para a leitura de livros em geral, mas particularmente os expositivos (os que transmitem conhecimento), de forma que realmente os entendamos e os tomemos para nós, evitando o acúmulo de informações sem reflexão que geralmente ocorre.
Conforme Adler, há quatro níveis de leitura - a Elementar, em que ocorre a alfabetização; a Inspecional, que seria uma abordagem superficial do livro; a Analítica, com o objetivo de entender, compreender e apreender por completo o conteúdo do livro; e a Sintópica, cujo objetivo é ler um assunto, por meio de diversos livros sobre. O argumento é que, conforme o objetivo do leitor, a forma de leitura deve se adaptar: ao ler um livro mais simples e que não gostaria de me aprofundar, basta uma Leitura Inspecional; ao ler um complexo e que preciso efetivamente entender, devo fazer uma Leitura Analítica. O problema está em ler tudo com a mesma velocidade e a mesma dedicação, quando é evidente que há livros que merecem mais a atenção e cuidado na leitura, enquanto outros (a maioria), nem tanto.
Algumas das proposições de Adler foram uma surpresa. Por exemplo, ao ler um livro difícil, a intuição diria que deveríamos ler vagarosamente, parando a cada palavra, argumento ou fato desconhecidos para procurar em outras referências; para Adler, é um erro. Quebra-se o fluxo de leitura, não visualizaremos adequadamente o contexto geral da obra (particularmente em romances), e perde-se muito tempo. Na primeira leitura de uma obra difícil, ele sugere ler continuamente, sem parar. Em uma eventual segunda leitura, teremos mais chances de entender o que o autor quis dizer por conta própria - e, claro, se não o conseguirmos, poderemos procurar em outras referências. É um desperdício logo procurar ajuda externa; esta só deve interferir se realmente não estivermos conseguindo, pelo nosso próprio esforço, prosseguir na obra ou entender por completo o significado do que está sendo dito.
Algo muito comum, ao menos no meu caso, é "confundir a árvore com a floresta" - atenho-me aos detalhes, e por vezes esqueço do cenário geral do livro, ou do argumento central do autor. Uma das regras de leitura de Adler combate este hábito, estimulando-nos a descobrir qual é a unidade do livro que lemos - O livro, em geral, é sobre o quê? -. Não conseguir responder esta pergunta a qualquer pessoa que pergunte isso é um mau sinal: é possível que você não esteja captando a mensagem do que está lendo. E, após responder a pergunta da unidade (somente possível após a leitura do livro inteiro, obviamente), podemos montar um delineamento do livro, dividindo-o em partes como acharmos que isso deve ser feito.
Nos vinte e um capítulos, Adler fornece regras muito práticas de Como Ler Livros. Saber do que se trata o livro, interpretar seu conteúdo e criticá-lo são passos fundamentais para realmente entendê-lo. Após orientações gerais, que podem ser adaptadas a qualquer tipo de leitura, o autor fornece diretivas muito úteis para a aplicação das regras a tipos específicos de leitura - poemas, romances, história, ciências naturais, filosofia e ciências sociais. Assim, para praticamente qualquer leitura que você fizer, Como Ler Livros será de imensa valia.