Sarah 28/01/2021"Garota, mulher, outras", da escritora anglo-nigeriana Barnardine Evaristo, não é apenas um livro, mas vários dentro de uma capa única - que te fisga já nas primeiras páginas.
Explico: a obra narra as histórias de diferentes mulheres, todas negras, muitas lésbicas e imigrantes. E cada uma delas é descrita detalhadamente, com começo, meio e fim, apesar de se passar em apenas um curto espaço de tempo. Como a gerente do super mercado de bairro que antes de abrir a loja para mais um dia de vendas reflete sobre seu passado e como chegou até ali.
A narrativa é tão comovente a ponto de você se sentir um amigo próximo da personagem e lamentar o fim de sua história. Isso até ser conquistado por outra personagem.
Todas se entrelaçam em determinados momentos, apesar de os personagens não necessariamente se conhecerem.
E todas tratam das dificuldades de ser mulher, de ser negra, em alguns casos também da pobreza, em outros do preconceito ligado a sua sexualidade e às vezes sobre o processo de adaptação a uma nova cultura.
Evaristo explicou em entrevista que "esse é um romance que um homem branco não poderia ter escrito porque é a experiência que todas nós, mulheres negras, vivenciamos".
Outro ponto que chama a atenção no livro é a pontuação, ou melhor, a falta dela. Escrito em formato de prosa poética, não confunde o leitor, como temia, mas dá a cadência para o texto tantas vezes levado por sotaques dos imigrantes vindos de lugares como Caribe e África.
Não foi por acaso que a obra ganhou, além do aclamado prêmio Booker Prize em 2019, elogios fervorosos de pessoas como Barack Obama e Roxane Gay.
Apesar de ainda ser janeiro, já tenho certeza que será uma das minhas leituras preferidas deste ano.
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