Breno Torres 05/11/2012Minha Segunda BíbliaEu serei bem sincero nesta resenha, até porque é impossível não ser pelo tanto que este livro significou na minha vida.
A grande verdade é que quando eu peguei Comer, Rezar, Amar para ler, minha vida estava um caos - e quando digo um caos, não me refiro a bagunça ou estresse. Não: eu estava com depressão. Um término caótico de um relacionamento complicado com uma pessoa igualmente complicada gerou em mim uma onda de melancolia desesperadora e uma sensação de isolamento tenebrosa, já que eu não havia me apaixonado, exatamente: eu era fã desta pessoa. Perdi-me inteiramente no eu deste ser e, após o relacionamento, me vi sem reconhecer a imagem refletida no espelho e incapaz de agir sozinho em qualquer tipo de situação. Eu era apenas um viciado abstinente sem a droga a qual fui viciado, e que estava simplesmente enlouquecendo - com direito a todos aqueles sintomas loucos: insônia, perda de desejo sexual etc. etc.
É óbvio que todos aqueles que já leram Comer, Rezar, Amar ou já ouviram falar do enredo reconhecerão esse meu momento de vida com o de Liz Gilbert. Ela, após seu divórcio complicado, jogou-se nos braços de um homem e perdeu-se totalmente em função daquele que lhe fez ser uma rainha para, em pouco tempo, jogá-la nas masmorras da solidão e desprezo. Eu ouvi o enredo desta história e, desesperado, corri para a livraria mais próxima, no intuito de comprar de vez este livro que, para mim, era o mesmo que uma promessa de salvação.
E, para mim, Comer, Rezar, Amar, foi muito mais que um bote salva-vidas no meio do oceano: foi meu antidepressivo. E, é claro, teve papel de mais ou menos cinquenta por cento em minha melhora.
Elizabeth Gilbert descreve no livro como e o quê precisou fazer para superar o momento mais negro e cruel de sua vida: o momento em que sua mente, fora de controle, tornou-se, ao invés de sua amiga, algoz. Ela teve depressão por dois anos; desesperou-se. Lutou contra uma faca para não se matar; viu-se em frente de antidepressivos, duvidou sobre sua melhora, não dormiu por meses. Você consegue imaginar o que é isso para uma pessoa que está no auge de uma depressão pós-término?
Não é para menos que hoje costumo me referir a este livro não mais como "Comer, Rezar, Amar", ou "O Livro da Elizabeth Gilbert", mas sim "Minha Segunda Bíblia". Foi isso que esse livro se tornou. Além do fato de ter me ajudado incondicionalmente a me reerguer, como o feminista que sou, convenhamos: há algo mais intrigante e deliciante que a história de uma mulher que abdica de absolutamente tudo só para, uma vezinha na vida, entregar-se à satisfação? Ao prazer? Largar o marido, largar um amor, largar um trabalho que demorou dez anos para construir, amigos, lar, família, para passar quatro meses na Itália (comendo), outros quatro na Índia (rezando) e, fechando um ano, quatro na Indonésia (o plano era "unir o prazer terreno e espiritual", mas acabou servindo para encontrar um novo amor)? Elizabeth Gilbert é mais que uma escritora, para mim: é uma heroína. E Comer, Rezar, Amar é o registro por escrito de sua jornada de superação pós-epifania.
Eu sei que muitos talvez descartem 80% do que foi dito por ser puramente emocional, mas é isso mesmo. Comer, Rezar, Amar apareceu em minha vida num momento puramente sentimental, então como eu poderia escrever sobre o livro deixando de fora o que senti ao lê-lo? Seria como escrever sobre a chuva sem citar água.
Sou perdidamente apaixonado por este livro, portanto, não apenas pela forma brilhante a qual Elizabeth escreve (escritora, aliás, que mais me influenciou no meu processo de formação como escritor), mas também pela veracidade que é repassada do início ao fim. É uma leitura gostosa, divertida, introspectiva e, acima de tudo, universal. Para qualquer um que deseje algo mais desta vida.