Tamara 29/10/2010
L. F. Veríssimo tem um tema batido: a gula. Tem um grupo de amigos fracassados. Tem um cozinheiro que quer se vingar. Tem um gay morto. E tem a comida, claro. E, brilhantemente, ele consegue fazer com que essa salada fique harmoniosa. Fique tão deliciosa que é praticamente impossível largar o livro, deixar de lado, abandonar. Você não quer saber quem é o assassino: você já sabe. Você não fica preso somente pelo mistério, à la Agatha Christie, você se prende, principalmente, porque a estória é extremamente bem contada. Extremamente engraçada. Extremamente instigante.
A estória não está somente nos assassinatos como nos romances policiais. Não está na gula. Está na miserabilidade humana. Um grupo está tão fracassado, os homens se encontram tão deprimidos, que eles preferem morrer comendo sua refeição favorita a viver. É um suicídio coletivo, uma roleta russa em que ninguém sairá vivo. Eles sabem e gostam disso. E no final, nós acabamos pensando se também, no lugar deles, não escolheríamos colocar um pouco mais de pimenta na comida e morrer. Se deixar levar pelo tempero e relaxar. Ir deitar com os cachorros.
Obrigada, Veríssimo!