Theef 29/03/2022
Nhé.. mais ou menos
Cherry é um daqueles livros que misturam biografia
com ficção, já que conta muito da vida do próprio autor. Como
se o fim da adolescência já não fosse uma época turbulenta
por si, o protagonista anônimo narra sobre o seu abandono da
faculdade, alistamento, a guerra no Iraque e seu trabalho por lá
como médico e, claro, o estresse pós-traumático ao voltar para
casa, assim como o seu vício em drogas e os assaltos. A
narrativa informal é de simples leitura e entendimento mas ao
mesmo tempo tão profunda que a torna um pouco complicada.
O narrador descreve os efeitos da guerra em seu psicológico
assim como efeito da heroína, tudo isso a mil em seu
psicológico, afetando também o seu relacionamento e os
trazendo ao fundo do poço.
É o tipo de leitura difícil, que deixa facilmente o leitor
incomodado não apenas pelo forte consumo de drogas e
violência explícita mas também pelos relacionamentos tóxicos
e do comportamento bem machista e misógino do narrador
que faz alguns comentários para lá de desnecessários. A forma
como ele nos conta sobre como aos poucos foi sendo tomado
pelo vício é assustador mas admito que o que me chocou mais
foi o início de tudo, o uso de medicamentos como uma válvula
de escape para a sua dor sem saber o triste impacto que isso
teria em sua vida no futuro, o fazendo se perder em meio
aquela válvula de escape perigosa. O que piora ainda mais
quando volta do Iraque, já que tem mais acesso ao álcool e as
drogas ilegais. O leitor acompanha essa caída do Narrador em
meio aos seus pensamentos confusos e em alguns momentos,
incoerentes. Uma coisa legal de dizer é que o próprio narrador
sabe que ele não vale um tostão mas mesmo assim, o leitor em
muitos momentos pode se pegar gostando dele, que querendo
ou não, é um personagem bem realista. A leitura parece fácil
de inicio mas não se iluda. Vale avisar que a obra tem um
acervo bem diversificado de gatilhos diferentes então não é
uma leitura para todos.