Resenhas - A palavra que resta

Faty. 06/06/2024

Ai que livro bonito
Um livro bonito e sensível, com uma prosa poética que a cada livro que leio nesse estilo, mais me agrado. Um livro sobre as marcas deixadas pelo preconceito e a intolerância, mas também pelo amor.

Aqui vemos a história de Raimundo, que descobre o amor com Cícero, seu amigo de infância, mas que vêem sua história interrompida pelo preconceito, a ignorância e o medo de seus pais, que representam facilmente a sociedade, não só da época como, infelizmente, até dos dias de hoje. Contudo, por viverem na zona rural, no interior do país, em um tempo em que a diversidade sexual era pouco e, ainda menos compreendida, esse amor se torna pesado e combatido com a maior violência. Passagens que me deixaram aflita e profundamente desconcertada.

Esse amor da primeira juventude acompanha Raimundo até já avançada idade, assim como uma Carta deixada por Cícero. Analfabeto, Raimundo passa toda uma vida sem saber o que tem ali escrito. A história se passa, em uma espécie de fluxo de consciência não linear (o que me gerou certa dificuldade com as vozes dos personagens, mas nada que estragou a experiência), em que acompanhamos o desenrolar da vida de Raimundo até que ele finalmente vê ser possível o aprendizado das letras.

Nesse ínterim, vamos aos poucos conhecendo os percalços por que ele passou até fazer as pazes com sua própria existência e também conhecemos a personagem Suzzanny, um ponto de luz em meio a uma história de tanta dor.

Saber o que está escrito na carta, ao fim, se torna mero detalhe.

Uma leitura curta, rápida e de uma delicadeza imensa. Triste também, com passagens brutais, mas que não o definem por completo. Leitura imprescindível. Recomendo.

Edméia 06/06/2024

Recomeço.
Editora : Companhia das Letras.
E-book : páginas : 152.

*Minhas impressões :

Aqui conhecemos um senhor da terceira idade que se chama Raimundo Gaudêncio e quer aparender a ler e a escrever porque deseja ler uma carta ! Essa carta está com ele desde a idade da pré-adolescência ! Foi Cícero, seu namorado, quem escreveu e pediu para Marcinha, a irmã dele, entregá-la e ele carregou consigo essa carta durante toda a vida !!!
Raimundo Gaudêncio foi colocado pra fora da casa dos pais, que moravam no sertão nordestino , porque o pai dele descobriu que ele era um menino que gostava de meninos !!!
Este livro fala sobre homofobia e analfabetismo ! Temos aqui uma história realista e triste, muito triste !!!
É impressionante constatarmos como tudo seria BEM DIFERENTE , melhor, alegre, tranquilo se Raimundo fosse aceito pela família dele , pela sociedade , por ele mesmo e se ele soubesse ler e escrever !!!
Senti a violência que foi para um homem como ele, trabalhar como chapa, quer dizer, como carregador de mercadoria para caminhão !
Fiquei contente quando ele começou a costurar e , assim sendo , ser feliz porque fazia o que gostava !
Doeu meu coração vê-lo rejeitado pela mãe e , mesmo não querendo , ser obrigado a arrumar sua trouxa e partir ! Ele , sem querer, também partiu o coração de Marcinha , sua irmã !!! Muita tristeza e sabemos que isso realmente ocorre , principalmente, em cidades, regiões, povoados onde as pessoas não possuem acesso à escola, à cultura, à leitura de bons livros !!!
Não gostei da forma pela qual Stênio Gardel escreve ! Se é ESCRITA CRIATIVA iniciar orações com letras minúsculas, costurar um parágrafo no outro, misturar tempos e falas num curto espaço , afirmo que não me apraz esse tipo de texto ! Nesse aspecto , também , sou conservadora !!!
Esse foi o primeiro livro do Stênio Gardel que eu li e quero ler mais livros dele porque ele realmente sabe nos envolver na história !!!
Gostei de saber o significado de algumas palavras ! Amo as palavras !!!
De zero a cinco, dou nota 04 para este livro e recomendo! Não tenho a intenção de relê-lo.

Guaratinguetá , Junho de 2024.





site: www.mesadeestudo.blogspot.com

Paulo1844 06/06/2024

"A Palavra que Resta", de Stênio Gardel, é um mergulho profundo nas águas turvas da memória e do sentimento. O livro nos conduz pelas veredas de Raimundo, um homem cuja vida é marcada pela dor do amor proibido e pelo peso do analfabetismo. Cada página é uma pincelada delicada de poesia, revelando os contornos de um Brasil profundo, onde as cicatrizes do preconceito são tão visíveis quanto a paisagem árida do sertão.

Este livro é uma jornada íntima e universal, uma história que nos toca profundamente e nos faz refletir sobre a importância do amor, da educação e da luta contra o preconceito. É uma leitura que ressoa no coração, lembrando-nos que, apesar das cicatrizes, há sempre uma palavra que resta, esperando para ser dita, lida e vivida.

Ji-eun 06/06/2024

Ah, mas não foi isso o que eu pedi...
O final da estória me deixou um pouco decepcionada, pois esperava por uma resolução diferente para o conflito entre Gaudêncio e Cícero. No entanto, entendo a escolha do autor por um final mais realista e reflexivo. A história me surpreendeu pela sua brutalidade e pela forma como retrata a realidade marginalizada de Gaudêncio e Cícero. Fui torturada pelas cenas de violência física e psicológica, mas ao mesmo tempo, fiquei fascinada pela força e resiliência dos personagens.

Thaisrezende_ 06/06/2024

Triste, mas bonito
Apesar de realidades totalmente diferentes, a história do Raimundo me tocou de uma forma muito profunda.

É sobre a incerteza e esperança de viver uma realidade diferente.

Senti um pouquinho de dificuldade de me conectar com os personagens, mas na segunda metade do livro isso foi resolvido. Me apeguei à Suzanny de forma inexplicável ?

A escrita é muito poética e potente.


Gostei demais!

Rodrigo 06/06/2024

Emocionante
A dor sentida em sua maior potência!
O preconceito marcando vidas. Dilacerando sonhos.
Transformando pessoas em sombras.

Niara 05/06/2024

Não existe não mais lindo e rico que a alfabetização. E não importa em qual idade ela aconteça.
Livro doído e belo ao mesmo tempo.

Sinto muito por toda dor e todo sofrimento vivido pela comunidade LGBTQIA+.

Carla Verçoza 05/06/2024

Fui surpreendida com a beleza e força desse livro. Doloroso e tocante.
Desde as primeiras páginas, já fui impactada pela escrita do Stênio. Apesar de experimentar muito com a forma, pontuações e mistura de tempo e narrador (às vezes pode ser confuso), achei que o texto flui bem, tem uma poesia que, longe de ser piegas, funciona muito bem com as situações pesadas descritas no livro.
Raimundo, um homem de mais de 70 anos, resolve aprender a ler e escrever, algo que não lhe foi permitido quando vivia na zona rural, onde se criou. Um dos motivos para esse desejo era a vontade de conseguir ler uma carta recebida um amor (Cícero), há mais de 50 anos.
Enquanto frequenta a escola para adultos, os acontecimentos do passado vão aparecendo. A vida rural dura, a descoberta do amor por outro homem ainda bem jovem, a construção das amizades, suas relações amorosas e a própria aceitação como um homem gay.
(ALERTA DE SPOILERS) O livro mostra a dificuldade de uma família interiorana de 50 anos atrás em lidar com a orientação do filho. Fugindo um pouco do comum, é a mãe que o rejeita e expulsa de casa. O pai tenta arrancar do filho esses desejos, lembra-se do passado, do irmão que também era gay e teve um fim trágico. O pai não quer que o filho passe por isso, tenta forçar que ele mude, mas não o quer longe, diferente da mãe.
O final com certeza deve ter frustrado muitas pessoas. Tem um final aberto, sem mostrar enfim o conteúdo da carta. Ainda assim, eu não fiquei com esse sentimento, gostei muito de toda trajetória de vida de Raimundo, deixando o conteúdo da carta como algo secundário.
Romance de estreia do autor, merece muito ser lido.

"Cícero, tu aumentou o meu poente, mas depois pintou ele de um encarnado grande demais, um encarnado encarnado demais que o pai riscou nas minhas costas, imundo, tem palavra que faz é o contrário também? Encolhe e escurece a vista da gente, vermelho coagula em preto."

kau 04/06/2024

Li por causa da propaganda enorme que o Paulo Ratz faz desse livro e acabei enrolando muito para terminar a leitura, afinal, não consegui me conectar com os personagens e com os acontecimentos. Porém, admito que a escrita do autor é linda e tenho vontade de ler outras obras dele que poderão me encantar.
Apesar de não ter aproveitado completamente a leitura, fica o ensinamento que tirei do livro:
Quantas coisas deixamos de viver por conta de medos?

Ellen Rayane 04/06/2024

Uma linda história de quase....
Quanta coisa perdemos quando não vivemos o que realmente queremos... Um grande amor que viveu mais na imaginação do talvez do que a intensidade de um abraço...
Recomendo a leitura, principalmente pra quem ainda tem a chance de tentar !!!

lmjstxrm0 04/06/2024

A palavra que resta
"Cícero, tu aumentou o meu poente, mas depois pintou ele de um encarnado grande demais, um encarnado encarnado demais que o pai riscou nas minhas costas, imundo, tem palavra que faz é o contrário também? Encolhe e escurece a vista da gente, vermelho coagula em preto."

benji.by 04/06/2024

Raimundo e Cícero ?
A história é muito profunda e emocionante, cheia de críticas e muitas cenas dolorosas, mas que são a mais pura verdade da nossa realidade.

A escrita me deixou muito confuso em alguns momentos, não consegui entender o que estava acontecendo, mas ainda assim consegui pegar um pouco da essência do livro, da mensagem e da história.

Queria muito poder ter lido a carta, mas achei interessante ela não estar contida por ser algo pessoal entre os personagens.

É um bom livro.

Leticia2513 03/06/2024

Se eu estivesse em um incêndio e tivesse a chance de pegar um único livro na minha estante, esse seria o livro. Sem sombra de dúvidas, esse seria o livro.

Leticia Borges 03/06/2024

Lindo, lindo, lindo
A melhor leitura do ano até agora. Rico na linguagem, na temática, na forma, em tudo. Sem idealizações, o livro traz a história de um homem que se entendeu homossexual cedo, mas, assim como tantas outras pessoas, teve que negar sua forma de amar. Todo um mistério se coloca em torno da carta deixada pelo amor de adolescência, mas o mais incrível é acompanhar o amadurecimento desse sujeito que alcança a velhice ainda aprendendo e disposto a aprender mais. Livro lindo e digno de se tornar um clássico nacional.

Debora1051 02/06/2024

Arrebatador
Gente, que coisa mais linda. Estava com saudade de um livro arrebatador desse jeito, é 5 estrelas sem sombra de dúvida. Me encantou em tudo, o enredo é lindo, o tema é sensível, a escrita é magnífica. Sofrido em uma medida que eu sou capaz de acreditar que Raimundo e Cícero existem de verdade e a carta está guardada em alguma caixa de sapato por aí.

"e eu fiquei pensando se algum dia a gente ia poder fazer do mesmo jeito na frente de outras pessoas, passar pelo mundo de coração e mão dada um ao outro, e naquele instante, tão ligeiro, o tempo menor que o tempo de uma palavra se formar no pensamento da gente, imaginei nós dois juntos, andando na rua, trabalhando, dentro de casa, dentro de uma casa só nossa, uma alegria tão grande, a mesma quando estava contigo"