Lurdes 23/05/2022
13 contos
13 narrativas,
viscerais,
intensas,
perturbadoras,
indescritíveis...
Até que ponto o ambiente familiar pode ser cruel, brutal, destruidor?
Mulheres e crianças são os alvos das inúmeras violências narradas por Ampuero.
Um livro magnífico que aborda de forma crua o que de pior existe na raça humana.
A narrativa mistura realismo fantástico e terror mas, o mais pertubador, é sabermos que todas as estórias podem ocorrer, de verdade, em algum tempo/espaço.
Duas das narrativas mais impactantes estão nos contos Leilão e Luto.
Em "Leilão" uma menina é filha de um criador de galos de rinha que, por si só, já é um símbolo de crueldade com os animais. Seu pai a obriga a frequentar as rinhas e, inclusive, a recolher os animais destroçados e, se ela reclama, ele a chama de "mulherzinha". Neste ambiente extremamente tóxico, ela fica a mercê de toda sorte de humilhações.
Em "Luto", uma menina, flagrada pelo irmão mais velho se "tocando", vira alvo de sua ira que, em nome da moralidade, passa a tomar atitudes as mais bizarras e desumanas. Inenarráveis.
A podridão se faz presente em todas as estórias, em maior ou menor grau, mas não passamos imunes por nenhuma delas e a autora mostra porque é uma das personalidades mais importantes, tanto no Equador, como na Espanha, onde reside atualmente.
A América Latina vive um momento muito especial na literatura produzida por mulheres, com uma geração de escritoras donas de textos muito potentes, impactantes, alguns com pinceladas de terror, onde podemos incluir, além de Maria Fernanda Ampuero, Mariana Enriquez, Samantha Schweblin, Maria José Ferrada, dentre outras.
Não preciso nem alertar que tem inúmeros gatilhos, praticamente uma metralhadora, mas os noticiários podem ser ainda piores.
Pelo menos, aqui, temos literatura de primeira.