Sô 15/10/2019Tá aí um livro que eu queria ler há anos, mas posterguei por um único motivo idiota: capa horrível. Por algum motivo achei que iria amar e que por isso seria melhor comprar uma edição bonita, mas como ela simplesmente não existe, resolvi ler em e-book mesmo. Foi a melhor coisa. Rebecca está longe de ser um dos meus livros favoritos da vida.
O livro começa com as reminiscências da protagonista - que nunca tem o nome revelado - sobre Manderley, uma mansão no interior da Inglaterra, onde viveu por pouquíssimo tempo depois de se casar com Maximiliam de Winter, um aristocrata viúvo que perdeu sua primeira mulher, a Rebecca do título. E é justamente sobre a falecida que esse livro gira em torno. Enquanto a protagonista é super sem sal e insegura, Rebecca parece ser o oposto: linda, inteligente, cheia de vida e como o diz o título em português, inesquecível. Mas será?
As melhores passagens são as que envolvem a governanta de Manderley, a Sra. Danvers. Mulher sinistra pra caramba que adorava Rebecca e mantém o quarto dela do jeitinho que ela deixou antes de morrer. Trata a nova esposa do patrão com a maior frieza do mundo e sempre faz questão de lembrar da falecida.
O livro te instiga a querer saber mais sobre o que aconteceu com Rebecca, mas quando o segredo é revelado não tem como não se decepcionar. E a partir daí o livro se tornou um pouco bizarro para mim. Enquanto Max está confessando para a atual esposa que matou Rebecca a tiros porque foi traído inúmeras vezes, ao invés de se assustar, ela fica aliviada, porque isso quer dizer que ele nunca amou Rebecca! Nunca passou pela cabeça dela que ela poderia ter o mesmo fim? Achei isso bem problemático, tanto que foi tirado do filme dirigido por Hitchcock – no filme a morte foi acidental – justamente para que o público simpatizasse com o personagem, e também porque os filmes naquela época não podiam mostrar um marido matando a mulher e saindo impune.
O livro tem uma narrativa boa que te faz querer virar as páginas para saber o que vai acontecer em seguida, mas tem diálogos extremamente artificiais e uma descrição extensa e desnecessária em vários pontos. Tudo bem que é um livro britânico, mas as pausas para a hora do chá beiram a obsessão. Tem um trecho no finalzinho do livro em que estão para descobrir um ponto chave sobre a morte de Rebecca e precisam falar com o médico que a atendeu no dia em que ela morreu, mas esperam passar a hora do chá para interrogá-lo. Prioridades, não é mesmo?
O final é abrupto demais e nesse sentido acho que o filme traz um desfecho mais satisfatório. E mais emblemático também, com a Sra. Danvers queimando dentro de Manderley. Tão emblemático que é até a capa da edição Grandes Sucessos da Abril. Só que esse momento não existe no livro. Manderley pega fogo sim, mas nunca sabemos o que aconteceu com a Sra. Danvers.
No geral foi uma leitura divertida e valeu a pena conhecer esse clássico. Só esperava um pouco mais.