Jessica 13/04/2023
Como é bom encontrar um livro que te lembra que ler é, também, apreciar uma obra de arte.
Esse não é um livro fácil. Longe disso. É preciso estar preparado para lidar com as referências às drogas, ao suicídio, ao trauma, à guerra, à homofobia, ao racismo, ao medo, ao desespero, à pobreza, à loucura. É preciso saber que nem todos os trechos serão plenamente compreendidos em uma primeira leitura. E, ainda assim, você não vai conseguir parar de devorar esse livro porque ele fala tanto de como é ser humano, que fica impossível não querer absorver cada palavra desta carta à uma mãe analfabeta.
As críticas à guerra e ao capitalismo, que poderiam tornar a narrativa truncada, se encaixam naturalmente na obra de arte que o autor escreveu para se reencontrar, em um presente doloroso, a partir de um passado de dor e pontas soltas. O livro é um reencontro consigo mesmo, no que há de mais humano das relações humanas: a dor, o amor e o sexo. Nos lembra, perfeitamente, sobre a empatia e a necessidade de ouvir o outro, sem esperar a brecha para dar sua melhor resposta. Exige paciência e peito aberto. Exige que sejamos nós, sem que isso implique em deixar de ser o outro.