kau 15/09/2023
"Afinal, qual é o sentido da vida?"
"Às vezes eu me pergunto como posso sobreviver neste mundo onde, como disse Mary Oliver, 'tudo/mais cedo ou mais tarde/ faz parte de tudo o mais'. Outras vezes, lembro que não vou sobreviver, é claro. Mais cedo ou mais tarde, serei tudo o que faz parte de tudo o mais. Mas, até lá: que espanto respirar neste planeta que respira. Que bênção ser a Terra amando a Terra."
Este livro foi uma grande surpresa para mim. Eu esperava comentários simples sobre coisas aleatórias do antropoceno e encontrei reflexões e paralelos muito inteligentes sobre coisas aleatórias dessa era geológica em que vivemos e sobre nós como espécie. E ele literalmente dá notas, de 0 a 5 estrelas, para esses tópicos. O que é uma crítica a sociedade atual, que adora avaliar as coisas que consome (e eu faço parte disso kkkk adoro avaliar meus livros, filmes e séries)
Neste livro, John Green mostra que não é apenas um "simples" autor de romances, ele também é uma mente extremamente pensante, reflexiva e de uma profundidade demasiada.
Tinha vezes que eu lia o título de um capítulo e pensava "nossa, que tema inútil" mas depois de ler mudava completamente minha opinião. Não pelo tema em si, mas pela abordagem do autor, que faz diversas comparações, por exemplo, entre coisas materiais do mundo capitalista e coisas filosóficas, existenciais e pessoais. Ele traz muitas memórias de sua infância e juventude, além de falar bastante de sua família e amigos.
O livro é uma autobiografia e uma biografia de assuntos diversos, desde A peste negra até a atuação de Jerzy Dudek em 25 de maio de 2005. E ele foi escrito durante a pandemia de 2020, o que traz muitas reflexões voltadas a esse assunto, principalmente sobre esperança e união.
Muitas das coisas retratadas tem relação com os Estados Unidos, já que é o país em que John nasceu e vive. Mas isso não atrapalhou minha experiência de forma alguma. Foi muito interessante conhecer algumas coisas específicas estadunidenses e ler a opinião dele sobre esses assuntos. Ele tem um olhar crítico, e o seu país não escapou disso.
Mas tem muitos capítulos sobre coisas mais gerais também, como por exemplo o da peste e o da Internet. E ele traz muitos assuntos voltados a biologia e história, duas matérias que eu amo.
O livro é recheado de citações e eu achei muito legal, principalmente as poesias. Dá para ver que ele tem uma grande bagagem sociocultural. E eu me identifiquei bastante com os pensamentos externalizados dele. Nós dois, e creio que a maioria das pessoas do mundo, temos ideias otimistas e pessimistas ao mesmo tempo. Mas me identifiquei com mais que isso. Somos sentimentais e gostamos muito de saber sobre tudo o que é possível. Somos ansiosos, reflexivos, questionamos tudo e temos medo de muitas coisas. E apesar de vermos o mundo como algo terrível, conseguimos enxergar o que tem de mais bonito nele.
"Sou reflexivo - cheio de reflexões o tempo todo, inevitavelmente, exaustivamente. Mas também ajo sem pensar - seguindo configurações automáticas que não entendo nem examino..."
"A história nos pressiona, moldando a experiência contemporânea. A história muda quando olhamos para o passado a partir de diferentes presentes. E a história também é corrente elétrica: carregada e fluida. Ela obtém energia de algumas fontes e a entrega a outras."
"O que significa viver em um mundo onde você tem o poder de acabar com as espécies aos milhares, mas também pode sucumbir, ou mesmo morrer, por causa de um único filamento de RNA? Tentei aqui mapear alguns dos lugares onde minha pequena vida esbarra nas grandes forças que estão formando a experiência humana contemporânea, mas a única conclusão que posso chegar é simples: somos muito pequenos e muito frágeis tão gloriosa e assustadoramente temporários."
Para "Antropoceno: notas sobre a vida na Terra" eu dou 4,5 estrelas.
E para a vida na Terra no Antropoceno eu só posso dizer que tem sido maravilhosa e tem sido horrível.