Jade214
10/09/2022"Vejo o mar frio e ele leva tudo embora"Achei fantástico, principalmente para um primeiro livro. O início demorou um pouco para engajar e Adekola me deu nos nervos; parecia que a própria autora estava com um pouco de dúvida sobre que tipo de personagem gostaria de fazer, mas quando ele se fixou em sua persona orgulhosa, mas profundamente devotada à família e aos amigos passei a gostar genuinamente dele. Simidele é uma protagonista incrível com um conflito interno genuíno entre suas duas identidades, a humana e a de Mami Wata, que dá um gostinho doce-amargo a suas lembranças e ligações com os outros personagens. Yinka e Bem também rapidamente fizeram um lugar no meu coração e nunca, jamais, vou superar a morte de Issa, foi injusto demais, meu coração se partiu! O outro ponto alto da história foi, defitivamente, a surra de cultura, dos orixás, das lendas e dos trechos em iorubá; eu não sabia que estava carente de mitologia e religião africana até esse momento e foi tudo pra mim.
Minha única crítica foi que o livro foi curto. Não achei as ligações forçadas, mas o desenvolvimento dos laços entre personagens foi sim corrido por falta de espaço mesmo. A autora teria conseguido explorar bem mais, o potencial estava ali no colo dela (talvez tenha faltado uma conversa dos editores ou uma opinião sincera de um colega), mas tenho certeza que isso é algo que ela vai desenvolver a medida que escrever mais. E, finalmente, o final: corridíssimo, faltou um fechamento, faltou faltou faltou. Claro, abre um certo espaço para um continuação; mas ao mesmo tempo dá medo que a continuação perca a essência da história... Eu genuinamente penso que o shippe Simi x Kola não era para ser. Não vejo ela voltando a ser humana, pois o propósito dela como Mami Wata e como devota de Iemanjá é bem claro. Mas, ao mesmo tempo, queria ver mais das interações dela com Olocum, sobre Xangô e Oiá destruindo navios negreiros, sobre as outras Mami Wata, sobre a (possível?) redenção de Exu. Também quero saber mais sobre os Ibeji, a volta para casa deles e do que aconteceu com Bem e Yinka, queria o tempo para lamentar a partida de Issa, queria ver a prosperidade prometida para a vila de Okô.
Ficou esse terrível gostinho de quero mais na boca e uma vontade incontrolável de stalkear a autora e implorar por respostas.