Ane Elyse Fernandes 11/05/2024
Triste, sensível e necessário.
Não é de hoje, que choro em todos os livros que leio, da Daniela Arbex. sendo mineira e tendo acompanhado, mesmo que à distância o crime ambiental cometido pela Vale, é díficil ler os relatos e inevitavelmente, não sentir na própria pele, toda a dor e tristeza que a tragédia trouxe para a cidade, para as famílias e para toda a sociedade. as marcas desse crime seguem presentes, seja pela falta de justiça, pela insegurança que as barragens representam, bem como, pelas ausências de amores, planos e futuros interrompidos naquele fatídico dia.
o livro traz uma narrativa simples, autêntica, capaz de emocionar e que carrega consigo, toda uma potência de empatia e afeto, que também é necessário, para acolher o processo de luto de cada família ali retratada. a emoção é inevitável, principalmente quando ao ler as páginas, nos deparamos com os relatos dos sobreviventes, a sua luta pela vida e a compreensão do tamanho do ocorrido.
sentimos tristeza, mágoa, dor, rancor e todas as etapas possíveis, de também nos vermos como vítimas dessa brutalidade em nome do lucro.
nossa Minas Gerais, tão amada e querida, se vê a mercê daquilo que a fundou. suas riquezas naturais, hoje, ao meu ver, se transformam em sua possível algoz e é difícil admitir a incerteza que isso traz.
a leitura de Arrastados veio em um contexto pós-tragédia do RS, outro estado, castigado pela força das águas e da incompetência das autoridades políticas. novamente, os cientistas, que já vem avisando sobre as mudanças climáticas foram ignorados e vemos, cada vez mais, a necessidade de se debater qual futuro estamos construindo.
o livro mexeu muito comigo, como os demais da autora e trouxe, várias reflexões sobre o porvir. desejo toda a solidariedade e acolhimento às famílias que ainda lutam por justiça e que precisam, diariamente, se reconstruir e buscar forças, nas ausências e no luto que ainda persiste. ele sempre estará ali. mas desejo também, que sigam se apegando às memórias bonitas e todas as lembranças construídas, junto aos entes amados. é isso que dá força, a todos nós, para seguir lutando e acreditando, que ainda é possível, transformar a nossa realidade.