Thales Moreira
22/04/2022Um mistério magistralNeste livro de estreia do Inspetor Armand Gamache, Louise Penny demonstra um controle extraordinário sobre o enredo e aquilo que o leitor pode ou não saber a cada página. Apesar de um passo um pouco lento, a autora desenvolve Natureza Morta de forma tão envolvente que se torna impossível não continuar na leitura.
Na manhã após o dia de Ação de Graças canadense, o inspetor-chefe da Sûrete du Québec, Armand Gamache é chamado para investigar a morte repentina e violenta de uma senhora aparentemente querida por todos e sem inimigos no pequeno vilarejo de Three Pines, a poucas horas de Montréal. No lugar, em parceria com sua equipe de investigadores, Gamache começa a desvendar as nuances que formam esse lugarejo desconhecido e seus habitantes.
Somos apresentados a Clara e Peter Morrow, um casal de artistas com problemas financeiros, apesar de venderem seus trabalhos por valores consideráveis; Ruth Zardo, uma poetisa renomada que faz questão de manter sua fachada de azedume e desconfiança com o mundo; Olivier e Gabri, um casal que gerencia a hospedaria e o bistrô de Three Pines; Ben Hadley, herdeiro da família mais abastada do lugar, que passou a vida toda à sombra de sua mãe; e Jane Neal, uma senhora adorável que, infelizmente, é o corpo encontrado na primeira página de nossa história. Outros personagens igualmente importantes são tratados durante a história, mas eu precisaria escrever 10 páginas só para tratar de cada um deles; Penny consegue inserir uma gama variada de personas e nenhuma fica sem o devido desenvolvimento.
Já no núcleo investigativo (leia-se: a equipe de Gamache), encontramos Yvette Nichol, uma jovem investigadora que acaba de ser transferida para o Departamento de Homicídios e que tem um grande desejo de se provar, contudo, apresenta sintomas fortíssimos de egocentrismo e não consegue enxergar os erros em si mesma; Jean Guy Beauvoir, o mais antigo parceiro de Gamache e um aprendiz notável do inspetor; e Isabelle Lacoste, uma investigadora exemplar sempre disposta a fazer o necessário pelo bem da investigação e muito mais durona do que seu exterior demonstra. É digno de nota a forma como Penny conseguiu criar em mim uma aversão forte à Agente Nichol e toda a forma como ela tratar os acontecimentos que a concernem.
Quanto à própria história, Penny navega pela vida dos habitantes de Three Pines, as relações entre eles e a vítima, e entre si, além das maneiras como cada um é afetado por revelações assombrosas entregues no momento certo e da forma mais adequada. Em nenhum momento a autora perde o fio da meada ou deixa pontas soltas que não pretenda amarrar mais adiante. Ademais, o envolvimento do leitor na trama é extraordinário, levando-o por um caminho aparentemente correto para se descobrir o culpado, mas ainda entregando uma reviravolta digna a poucas páginas do fim.
Louise Penny e seu Inspetor-chefe Armand Gamache são, sem sombra de dúvidas, indicados para leitores que já se entregaram à escrita de Agatha Christie, Conan Doyle e Sidney Sheldon.