PedroS2 06/01/2024
A vingança e os males do poder.
Que livro espetacular! Sem sombra de dúvida umas das melhores fantasias que eu já li.
Atente-se aos gatilhos.
Agora explorando, vamos com isso! QUE trabalho bem feito e construído a autora faz, e de eximia maneira a propósito.
Ela nos introduz o mundo de Poppy War de maneira calma, tranquila, lenta e extremamente detalhada.
É o que eu digo, o escasso cansa e o excesso enjoa. Em momentos chaves, através de mitos e rumores a autora acrescenta infinidade as vertentes do mundo que ela mesma criou.
Geografia, geopolítica, política, mitologia, teologia entram de mancinho, de fininho, como gosto de dizer "no sapatinho", atentando as descrições a história se torna um castelo lindo e forte, com uma fundação firme e ornamentos descritivos impecáveis!
Os personagens? Que se falar, Kitay, Altan, Jiang, Rin, Nezha, o cike. São perfeitos! Bem explorados, a autora simplesmente foi excelente no seus desenvolvimentos em meio a guerra, questões filosóficas, psicológicas, governamentais (o que ela critica com extrema prudência ao longo do livro.)
Pulando para guerra, deixando um pouco de lado os personagens para abordarmos com mais afinco depois.
Isso, como diria Billy Butcher de The Boys "Puta merda, isso foi do KCT".
Nos poucos livros de ficções/fantasia que li e estavam abordando a guerra, não conseguiram chegar nem perto da maestria descritiva que a autora transcreve. É pura, e simples guerra! No seu mais literal sentido da palavra.
Ela não romantiza, não minimiza, ela explora, detalha e se aprofunda.
A autora deixa de maneira explícita o que muitos tentam esconder, que pra mim é idiota! Se você planeja abordar guerra, deve mostrar ela de maneira realista.
Isto fica claro e linka com o desenvolvimento de personagens,
"Quero me esconder. Quero que alguém me diga que vai ficar tudo bem, que isso é só uma brincadeira, um pesadelo." Página 234
Quando eu vi a exploração psicológica da protagonista eu pensei, "Opa, isso vai ser realmente bem trabalhado." E foi!
A escrita carrega um peso incrível, confesso que enquanto li não achei "realmente tão pesado" quanto o pessoal que leu dizia. Porém... até chegar no capítulo 21, o tão comentado!
E lá realmente me pegou, eu como leitor de manga que já leu diversos terrores psicológicos tenho propriedade para dizer que realmente toca no fundo do seu coração.
Eu me vi engolindo e seco e até mesmo ficando com muita raiva. (Se prepare para passar por alguns picos realmente emocionais se você é uma pessoa mais sensível e sentimental.) -esse é um dos lados incríveis do livro, ele evoca completamente emoções do leitor.
Este lado é totalmente proposital da autora pois ela desconstrói a ideia de "lado certo" e "lado errado". Pois a nação de Nikan, fez coisas iguais e quem sabe até piores com a nação inimiga, isto é guerra. Não há lados, ambos matam, torturam, estupram, e brincam com a vida alheia.
Então que justiça há em torcer para a vingança genocida de Rin quando fizeram até pior com a nação atacante?
O livro se torna mais impactante e pesado quando você descobre que foi baseado em fatos, ocorridos a tempos atrás.
Agora sobre os personagens, eu me maravilhei. Ri, odiei, amei, fiquei perplexo dentre outros.
Começando a protagonista, esta personagem me lembra uma frase que pra mim foi icônica da série Vikings. Mais precisamente Ragnar LothBrok disse "Poder é sempre perigoso. Atrai os piores e corrompe os melhores. O poder é dado aqueles que estão prontos a se rebaixar para pegá-lo."
Ela tem medo. Tem problemas. E tenta com grande afinco superá-los, não tenho muito a dizer a cerca dela. Eu realmente me afeiçoei com ela, devido a que ela não é uma moralista qualquer, ou uma protagonista que "tenta ver o bem" em tudo ou "fazer o bem" a qualquer momento. Ela é egoísta, vezes arrogante, apática com as pessoas. E isto é interessante, a quebra do padrão. É como se, ao comparar Rin das primeiras páginas, com Rin do último capítulo tivessem passados vários livros, quem sabe a guerra não faça isso com as pessoas?
Nezha, tirando Altan, foi meu personagem masculino favorito. Eu odiei ele do fundo da minha alma, até passar a não a ama-lo (Altan Stomps), mas realmente gostar dele. Você vê seu crescimento, seu arrependimento pelos erros do passado e sua redenção! O remorso pelo passado e suas intrigas com Rin são facilmente notados e transcritos. A confissão verbal foi muito bem construída.
Altan? Uau! Que profundidade magnífica. Sem dúvida o melhor personagem do livro. A relação construída entre rin e altan é realmente interessante de se ler. Prende a atenção.
Apresentado como alguém quase intocável, imbatível, sempre aquém aos outros. Acima. Uma posição quase mística (e realmente é hahaa)
Após anos, quando ele nos é apresentado novamente, eu pude ver alguém realmente implacável mas muito generoso e ponderante, quando suas estratégias deram errado e a pressão recaiu sobre seus ombros eu vivi momentos me questionando: Quando a autora vai torna-lo mais humano e mostrar seu sofrimento com esta situação?
E logo depois veio. E a explicação de como ele se mantinha firme foi bem surpreendente para mim.
Quando nos é explicado como ele consegue prender em si tanto ódio... tanta raiva. Por quanto dor ele passou para isso eu fiquei realmente pensando "Meu. Deus."
As expectativas em sempre ser o melhor, nunca errar, nunca poder, nunca poder falhar, nunca poder fraquejar, ter de ser uma máquina de guerra criado para batalhar, como ele aguenta?
Ópio.
A seguir algumas coisas interessantes.
Altan - vício.
Dificuldade - vício.
Paralelo entre a grande expectativa, o peso da responsabilidade com o - vício.
A dor da perda quando interligada com o - vício gera minimamente esquecimento e alegrias momentâneas capazes de frugalmente fornecer caminhos para longe da dor que tanto queremos evitar.
Não acho que alguém que nunca passou por uma situação tão grave e desesperadora que viu os vícios como última esperança de manter sua humanidade consiga entender, ou compreender o minimo do peso que isto carregue. Talvez possa pensar "é só parar. E ver de outra perspectiva." Quão fácil seria, se assim fosse não teríamos nada que viciante neste mundo.
Ou mesmo, quão fácil é julgar alguém que entrou em um vício sem saber o que o motivou a tal.
Para um viciado, não é a droga, ou a liberação de dopamina. Mais vale pra ele, trocar todo o seu tempo de vida e dinheiro pelos poucos momentos de refúgio da dor. O esquecimento.
E dor. A autora foi perfeita em mostrar sua visão de que nada pode ser conquistado sem dor e sofrimento. A própria protagonista é um exemplo disto ao longo de todo o livro.
"Sucesso exigia sacrifício. Sacrifício significava dor. Dor significava sucesso." Página 97
Único ponto que eu achei que poderia ter sido melhor, foi que a autora poderia ter apresentado que não há "lados" numa guerra mais cedo.
(Também, identifiquei ao longo da leitura 2 erros ortográficos. Porém isso a gente releva.)