Gláucia 05/08/2020
Todos os Nossos Ontens - Natalia Ginzburg
Terminei a leitura há uma semana e ainda estou degustando. E ainda tentando encontrar as palavras que expressem o que achei.
O livro se divide em duas partes e se foca nas vidas dos membros de duas famílias vizinhas e seus conhecidos. Passa-se numa cidade do norte da Itália no período do nascimento do fascismo até o final da segunda guerra. As histórias são fictícias mas totalmente (acredito eu) similares a acontecimentos na vida da autora, seus familiares e amigos. No início até pensei se tratar de relato memoralístico.
A narrativa é em terceira pessoa mas extremamente fluida e coloquial, semelhante ao estilo de linguagem dos personagens. Várias vezes imaginava que o narrador viveu a história, parecia ser um dos personagens. Era como se estivéssemos sentados em redor dele ouvindo relatos do passado.
Conhecemos o período: fascismo, guerra, invasão nazista, fome, etc. Não dá pra esperar acontecimentos felizes mas a autora narra com tal leveza e senso de humor que na maioria das vezes lia com um sorriso no rosto e sentindo um quentinho no coração. Estranho eu sei mas foi isso que senti. Natalia tem esse dom e quem tiver lido seu Léxico Familiar talvez entenda o que quero dizer.
Me lembrou um pouco o jeito de narrar do livro "A Praça do Diamante" de Mercé Rodoreda onde são emendadas uma frase atrás da outra e tudo vai acontecendo assim como a vida corre...
Vou deixar aqui o trecho final que expressa isso:
"E riram um pouco e eram muito amigos os três juntos, Anna, Emanuele e Giustino, e estavam muito contentes de serem eles três os que estavam pensando em todos aqueles que tinham morrido, e na longa guerra e na dor e nos clamores e na longa vida difícil que tinham agora pela frente e que estava repleta de coisas que não sabiam fazer."
A maioria dos personagens aqui estarão sempre no meu coração: Cenzo Rena, Emanuele, Franz, Ipolitto, Anna, a senhora Maria, e tantos outros. Perece gente de nossa família.