Aione 07/12/2022Nós somos inevitáveis é o romance de Gayle Forman que presta uma homenagem aos livros e aos livreiros. Destinado ao público adulto, o que difere da maioria de suas obras, foi traduzido por Marcela Nalin Rossini e publicado no Brasil pela editora Arqueiro.
Aaron administra com o pai o sebo falido da família. Depois da partida da mãe e do irmão, a vida de todos se transformou, e agora Aaron tanto perdeu o gosto pela leitura quanto não acredita mais na recuperação da loja. Então, a oportunidade de vender o sebo chega junto da aproximação com outras pessoas da cidade, especialmente um colega da escola com quem Aaron nunca se deu bem. É quando suas perspectivas pouco a pouco passam a mudar.
A narrativa em primeira pessoa é essencial em Nós somos inevitáveis, passando ao leitor o ponto de vista limitado de Aaron sobre a própria vida e sobre tantas crenças que o personagem carrega. Assim, é tarefa do leitor perceber onde a voz de Aaron é equivocada, e a trajetória de transformação do protagonista é o cerne da obra. Vale dizer que Aaron é quase um anti-herói, destilando ressentimentos, amarguras e cobranças ao longo das páginas.
“Continuo lendo, relembrando por que eu adorava livros. Porque eles nos mostram, em tantas palavras, e em tantos mundos, que não estamos sozinhos.
Um milagre, em 26 letras.”
páginas 218 e 219
Embora a capa do livro dê a entender que Nós somos inevitáveis trará um romance, esse não é o foco. Até há certo desenvolvimento romântico, mas em segundo plano e como parte da visão que Aaron tem sobre o que o rodeia. A presença do amor na história se dá em um sentido mais amplo, voltando-se às relações familiares, aos livros e, sobretudo, às amizades.
Entre os temas abordados, estão o luto e a dependência química, e gostei bastante de como a autora trabalhou cada um, tão atrelados à narrativa em primeira pessoa. Embora sejam temáticas sensíveis, Gayle Forman as aborda com leveza, sendo bem-sucedida também em como aplica o humor. Sendo uma história sobre livros, as referências são inúmeras, inclusive nomeando os capítulos. Achei muito bonita a maneira de como a importância das leituras é enaltecida, principalmente por ser fator de conexão e de identificação. O papel dos livreiros em destinar as histórias aos leitores é, também, central.
A leitura é bastante ágil, especialmente por Gayle Forman ter uma escrita direta e que movimenta bem os acontecimentos do enredo. Contudo, senti falta de um maior aprofundamento no desfecho, assim como alguns aspectos me pareceram não muito bem delineados. O pai de Aaron, por exemplo, é caracterizado como um homem muito mais velho do que de fato é, assim como sua mãe tem uma história não muito bem explicada, que fica quase jogada na narrativa. Mesmo que a história seja bonita e sensível, e que a proposta da autora seja boa, faltou algo para que fosse uma leitura realmente impactante.
Em linhas gerais, Nós somos inevitáveis me proporcionou uma leitura rápida e gostosa, na qual sensibilidade e humor estão entre os principais ingredientes. Apaixonados por livros certamente se identificarão em diferentes passagens, o que é um dos pontos altos da leitura. Contudo, apesar da proposta de Gayle Forman ser boa, em termos de temáticas e de como abordá-las, o romance poderia ter entregado mais.
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