Diorama

Diorama Carol Bensimon




Resenhas - Diorama


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Valéria Cristina 11/09/2023

Muito bom!
Este foi o primeiro livro que dessa autora e já recomendo.

Diorama é baseado em um crime real ocorrido no Rio Grande do Sul. Cecília Matzenbacher, uma taxidermista que mora nos Estados Unidos, em uma narrativa não linear relata como um crime brutal afetou sua vida e a de toda a sua família.

Em uma prosa embalada pelos anos 1980, onde podemos perceber o cenário político, econômico e social daquela década, Ciça, ao relembrar os fatos ocorridos em julho de 1988, vai descortinando uma sociedade machista, preconceituosa, elitista e corporativista. Demonstra como as vítimas são transformadas em réus e como suas orientações sexuais podem influenciar para isso.

Tendo como pano de fundo o assassinato de um deputado e ao tempo em que procura reconstruir sua vida no EUA, a protagonista vai desfiando suas dúvidas, suas angústias e as mágoas que foram deixadas por esse acontecimento e que originou segredos e violência.

A palavra diorama significa um quadro de grandes dimensões que, submetido a luzes especiais, muda de aspecto, forma e cor, criando-se efeitos tridimensionais e de movimento. A leitura desse livro nos dá a sensações de estarmos justamente em um desses cenários onde cada peça vai sendo posicionada enquanto a história nos é narrada.

Carol Bensimon é uma escritora e tradutora brasileira. Publicou contos e ensaios nas revistas Piauí, Galileu, McSweeney’s, Superinteressante, Ficções, Ficção de Polpa e Bravo!, assim como no jornal Zero Hora,[6] O Globo, Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo. Seu primeiro livro foi Pó de Parede (Não Editora, 2008), reunindo três novelas. Em 2018, ganhou o Prêmio Jabuti.
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luisa302 10/09/2023

Do tipo de livro que tu pesquisa pra saber se a história é ficção mesmo de tao real que parecem as pessoas e os acontecimentos. mt bom!!
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Paulo 26/08/2023

Espécie de romance de investigação, o ponto inicial e principal é o assassinato do deputado João Carlos Satti em Porto Alegre nos anos oitenta, baseado num caso real ocorrido na mesma década, com apenas alguns poucos anos de diferença. Mas o foco da narrativa não é inteiramente o caso ou a investigação.

Cecília, a protagonista, constrói vagarosamente a trama a partir desse núcleo familiar de classe média alta que entra numa turbulência interminável e irreparável por conta da suspeita desse assassinato que acusa o pai da família. A falta de pressa, de ênfase e de foco de Cecília em investigar, nos apresentar ou descobrir o caso não é só para manter esse mistério instigante ou para ir construindo a investigação com o leitor, até porque a narradora já sabe, mas é porque é, sobretudo, um romance narrativo que quer contar histórias, mais do que apenas um subgênero policial. Sem nenhuma pressa Carol Bensimon vai e volta no tempo em vários períodos de várias vidas, é uma ficção que parece muito autobiografia, não do gênero autoficcional, uma mistura de, como diz a sinopse na contracapa, coming of age com romance policial, mas também com boa dose de romance de estrada (gênero de outro título anterior da autora, Todos Nós Adorávamos Cowboys, um road novel total, mais devagar).

Bensimon aprofunda muito bem os personagens, tanto que, assim como vai sempre construindo novas informações e revelações para o caso Satti, nos deixando até em dúvida mesmo quando o fato está evidente, também sempre traz revelações dos personagens, não necessariamente comprometedoras, mas psicológicas, de personalidade, do seu âmago, e ela faz isso de forma mais intensa, quase que com um carinho especial, com um personagem específico muito próximo de Cecília, a narradora conta, nessa vagarosa linha do tempo que vai e volta bem construída, as autodescobertas desse personagem que vai conhecendo a si mesmo, é um ponto do livro tão interessante quanto a investigação do crime.

A escrita de Bensimon tem uma qualidade criativa que não é profundamente lírica, aqui há ocasionalmente o humor um pouco ácido que me lembro de "Todos Nós Adorávamos Cowboys" (onde ela tira sarro dos conspiracionistas do ET Bilu e Projeto Portal), apenas alguns diálogos de Diorama me pareceram pouco criativos, banais, superficiais, num deles, na resolução fácil de um problema, Cecília também me pareceu muito egoísta e isso não foi enxergado/problematizado assim pela narração, que, como uma literatura decente e madura, mostra os defeitos e "falhas de caráter" de qualquer personagem, incluindo o protagonista. Além disso, sendo eu talvez desnecessariamente detalhista, tive a impressão bastante forte de que, de repente, já tarde na segunda metade do livro uma parte breve da escrita me pareceu apenas um texto literário parcamente descritivo de uma narração pobre, "isso foi assim, aconteceu isso, virou e disse".
O final, bem no final, as positivas escolhas de eventos e resoluções soaram quase forçadas, quase, embora seja uma escolha do autor e essas escolhas façam parte do seu âmago, essas resoluções aqui, e realmente não são muitas nem em tom exagerado, pareceram fácil demais (e, claro, comerciais) considerando todo o tom do livro e o psicológico dos personagens e os redemoinhos repetitivos em que eles viveram toda a vida, mas, bem no fim mesmo, não acaba fácil, resoluto, óbvio nem tão reparador, é mais ou menos como se o fim se equilibrasse desse escorregão quase tosco que ele deu brevemente por querer dar um pouco de reparação aos personagens. Esse incômodo pode ser também porque, como dizemos entre os colegas na livraria onde trabalho, a gente só lê/gosta de coisa pesada, "não sei o que indicar quando pedem algo leve".

Por fim, algo curioso é que Carol Bensimon, uma mulher lésbica, ou pelo menos não heterossexual, não prioriza criar personagens LGBTQIA+ nem tê-los como foco da narrativa, curioso porque é natural que queiramos escrever "sobre isso", mas isso não quer dizer que ela não aborda o "assunto" de forma bastante pungente, pelo contrário, entre outras coisas, ela tenta ilustrar como era um pouco dessas vidas na década de 80, que além do abismo de informações e conquistas entre lá e hoje, foi a década da AIDS, que além do próprio mal que causou, piorou os preconceitos e desinformações contra as sexualidades.
DjiEm 06/09/2023minha estante
O livro tem protagonismo sáfico? Ele está na lista de livros LGBT na amazon e queria confirmar, pois você diz na tua resenha que personagens LGBT+ não são o foco na narrativa, então fiquei na duvida.




Ana Sá 22/08/2023

Um romance inteligente e envolvente, na mesma medida
Baseado em um assassinato real ocorrido na década de 1980 em Porto Alegre, "Diorama" aborda o crime não sob o prisma do assassino ou da vítima, mas da filha do acusado de tal tragédia social e íntima. Cecília, filha do deputado Raul Matzenbacher, desenha, entre idas e vindas temporais, o retrato macro e micro de um escândalo que abala não apenas sua cidade, mas sobretudo os pilares de sua família de classe média. A meu ver, um romance policial orientado menos pelo crime em si, e mais pela investigação do que havia e do resta de uma família depois que se aperta(m) gatilho(s).

Brilhantemente executada, a obra traz capítulos que se deslocam da Porto Alegre na qual vivia Cecília aos 9 anos, quando tudo ocorreu, e cidades dos Estados Unidos, país escolhido pela Cecília adulta na tentativa de começar uma nova vida ou de apenas fugir da anterior. Aliás, a geografia do romance e as ambientações são um ponto forte; não só sentimos na pele a ponte aérea Brasil-EUA e a ponte temporal BrasilPassado-BrasilPresente, como nos vemos diante de ecos do velho e bom romance policial nacional à la Rubem Fonseca, que desta vez substitui o protagonismo das ruas cariocas pelos bairros da capital gaúcha.

Sim, a meu ver, ética e estética vivem aqui um casamento perfeito, e também o título e seu derivado (a taxidermia, profissão da Cecília) têm culpa no cartório dos acertos deste livro. "Taxidermista" é o profissional que se dedica a remontar/empalhar animais; "Diorama", por sua vez, é a paisagem/cena que se cria com esses animais, em museus de História Natural, por exemplo. Ouvi em uma entrevista que a autora não é taxidermista e que inicialmente começou a pesquisar sobre essa prática por gosto pessoal, sem ter grandes intenções pro romance. Isso até que (como nós, leitoras) ela notasse que não poderia ter feito uma escolha mais acertada. As metáforas e alegorias sobre morte-vida-encenação que a profissão de Cecília traz pra narrativa são genialmente sutis e sempre interessantes. Aliás, nunca mais verei um animal empalhado da mesma forma!

Eu diria que "Diorama" é mesmo um romance de simbioses, entre o político e o íntimo, entre o histórico e o privado, entre os fatos e a geografia, entre passado e presente. E se dei nota 4,5 ao invés de 5, é só para me registrar um detalhe que incomodou a mim e a uma amiga querida, a respeito da voz narrativa:

O que sabemos sobre o crime vem (i) das memórias pessoais de Cecília, (ii) de uma posterior investigação particular feita por ela e (iii) até mesmo de sua imaginação. Acontece que às vezes esse narrador-personagem se transforma num narrador onisciente de forma abrupta e inexplicada. A meu ver, são bem melhores os trechos em que a narradora deixa marcas, mesmo que singelas ou implícitas, das fontes daquilo que ela nos diz, até porque Bensimon sabe fazer isso muito bem, sem quebra de fluidez (justamente: é uma delícia ir percebendo se Cecília está elocubrando ou reproduzindo coisas que ouvi/viu/descobriu... Daí a minha insatisfação quando esse narrador onisciente surge [e permanece] sem pedir licença!). Portanto, pelo que considero ser um tropeço literário, descontei 0,5 da avaliação de leitura.

Num momento em que sobram romances de prosa poética, Carol Bensimon opta por uma história sóbria, sem aforismos, focada na execução de um projeto literário desprovido de grandes adereços. Fiquei encantada com o modo como ela amarra uma narrativa sócio-histórico-política a uma narrativa de si. A narradora não adota um tom confessional, pois não precisa. Cecília se revela mesmo quando opta por calar o "eu" e focar nos outros e nos fatos. Do Brasil hiperinflacionado da década de 80-90 à "família de bem" e ao armamentismo que perduram até os dias atuais, o interior da protagonista é costurado a tudo que há a seu redor, traçando quadros sensíveis sobre infância, memórias, relações familiares, traumas. Sim, é gostoso ler uma boa prosa poética, mas há dramas e tramas que não carecem de poesia para serem brilhantes e, por sorte, "Diorama" vem nos recordar disso.

Obs. 1: A cereja do bolo é, com certeza, o espaço que uma questão identitária, em específico, vai ganhando no desenrolar do romance, mas optei por não tratar disso na resenha porque foi muito prazeroso ir me dando conta desse elemento aos poucos, então decidi encará-lo como spoiler. Mas deixo aqui minha menção honrosa a mais esse acerto da autora!

Obs. 2: Em certa medida, este é um romance musical e a autora disse numa entrevista que montou uma playlist no Spotify pra quem tiver curiosidade em ouvir as músicas que são citadas nele.
Ana Sá 22/08/2023minha estante
Obs. 3: Um obrigada à Tânia, por ter me apresentado a este livro incrível! ??


Flávia Menezes 23/08/2023minha estante
Que resenha, amiga!! Uma verdadeira análise crítica que merece ser lida antes de conhecer melhor essa história! ??????


Ana Sá 23/08/2023minha estante
Obrigada, Flávia!! ??


livroselabirintos 31/08/2023minha estante
Melhor resenha ???? Muita satisfação em ler seu texto!!! Eu é que tenho que agradecer porque gosto muito mais do livro!!


livroselabirintos 31/08/2023minha estante
Gosto muito mais depois do seu texto!


Marina.Defensor 13/02/2024minha estante
Que resenha ótima! Parabéns!


Daniel 20/02/2024minha estante
Eu amo todas as bandas citadas durante a leitura: The Smiths, The Cure, Depeche Mode, Echo and Thr Bunnymen, Cocteau Twins, Jesus and Mary Chain.... Melhor trilha de livro com certeza!




Leonardo.Goulart 12/08/2023

Diorama é a história de um assassinato tanto quanto é a história de uma família. Em meio a uma Porto Alegre da década de 80, o preconceito e a política ditam as percepções da população. Mas uma menina tem outra visão de tudo.

Achei que fosse me apegar mais, faltou algo. Um aprofundamento das relações familiares? Mais Jesse? Mais Vinicius? Nada disso empobrece a narrativa, muito boa, mas senti a falta de uma conexão maior.
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Dani.Odete 09/08/2023

Lento!!!
Não sei se...por não ter conseguido me conectar com a história e com os personagens,mas a leitura se arrastou a ponto de eu só querer que terminasse logo.
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Ferdy 08/08/2023

Magnificamente escrito! nunca imaginei que eu leria um livro que explicasse taxidermia - trabalho da protagonista, a Ciça - e fosse tão interessante, a ponto de achar que o livro era autobiográfico. E a história do crime contada aqui foi tão bem narrada que olha...que presente pros amantes de um bom livro!!
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Gisele567 17/07/2023

Diorama
A obra de Carol Bensimon, Diorama, é inspirada em um crime real ocorrido na capital gaúcha, um romance policial que trata questões de sexualidade, preconceito, crimes e retorno às lembranças do passado.
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KelenDZ 11/07/2023

Livro incrível...
A história é muito bem construída, cheia de camadas que vão se revelando no decorrer na leitura, e que foi me pegando de surpresa a cada novo fato.
Amei as referências às bandas e músicas, comportamentos e termos dos anos 80, bem como as referências aos locais em Poa e outras cidades citadas no decorrer da história...me trouxe nostalgia dessa época ?
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@limakarla 25/06/2023

Eu vi muitas pessoas indicando esse livro, falando que era muito bem escrito, então resolvi dar uma chance e ainda bem! Não estava pronta pra ver um novo favorito nascendo no meu coração.

A autora se baseou na história de um crime que aconteceu no Rio Grande do Sul e em cima disso criou seus personagens e enredos tão bem amarrados e repletos de camadas. Existe uma discussão política, discussão sobre sexualidade, relações entre pais e filhos, tudo que eu gosto!

Acompanhamos a aurorar recriar toda a teia das suas memórias, numa tentativa de compreender o que aconteceu com a sua própria família. E isso feito misturando presente, passado e desconfianças que a acompanharam a vida inteira. Simplesmente fenomenal e viciante.
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Stella F.. 14/06/2023

Diorama da natureza e da vida
Diorama
Carol Bensimon - 2022 / 288 páginas - Companhia das Letras

Logo de início somos apresentados à família da protagonista Cecília que nos conta sua história em dois momentos: quando criança e agora adulta vivendo nos Estados Unidos, e com uma carreira de taxidermista onde monta muitos dioramas, reprodução de ambientes representativos do habitat natural dos animais. Cecília faz sérias críticas aos empalhadores e naturalistas, matando os animais e às vezes, deixando os bichos empalhados, em um depósito, esquecidos. "Eu gostava deles. Eles me deixavam intrigada. Eram animais e eram também objetos. Além disso, e acima de tudo, eu guardava lembranças muito nítidas das minhas visitas ao museu de história natural de Nova York. Nada era mais incrível que os dioramas. Eu tinha passado muitas horas diante deles, a poucos centímetros do vidro, completamente abismada pelos habitats refeitos nos mínimos detalhes. Queria entender como aquilo tudo fora construído. Parecia uma combinação fascinante de ciência e teatro. Comecei a ler vários livros sobre o tema." (pg. 216)

Conhecemos as personagens: mãe (Carmen Matzembacher), pai (Raul), avós (Wagner e Ondina), irmãos (Vinicius e Marcos), o cachorro Faísca e já vamos acompanhar uma viagem de caçada nos pampas. Nessa viagem já vemos se delineando as características de alguns personagens, e ficamos avisados que logo tudo irá mudar, uma mudança radical na vida de todos.

No presente, o namorado de Cecilia, Jesse, viajou com sua banda. Ele é músico. Na ausência dele, Ciça recebe notícias de que seu pai está doente, em Porto Alegre. Ela sabe que deveria ir ver o pai, mas não consegue. O irmão fala que ela conseguiu se afastar, "ilesa". Mas ela diz que não. Tudo a remete ao passado. Ela gosta de hotéis onde ao lado sabe que é tudo igual, meio padronizado, nada sai do lugar, tudo funciona igual para todo mundo. Mora em um quarto sublocado onde a dona ouve televisão o dia inteiro, e isso a remete aos anos oitenta, é como se ela, apesar de muito distante de casa, não saísse do lugar. "É como se as mesmíssimas colchas, cadeiras e luminárias, arranjadas e rearranjadas nas mesmas posições, fizessem eco aos padrões limitados dos dramas humanos vividos aqui. Por um instante, isso parece diminuir o peso da minha história." (pg. 53) "Deixar para trás não é esquecer." (pg. 35)

A partir da segunda parte do livro me senti mais empolgada com a leitura, pois vamos conhecer o Caso Satti, o caso ficcionalizado do assassinato real de um deputado federal, e que tem como principal suspeito o pai da protagonista. Conhecemos todos os meandros do que levou Raul a ser suspeito e vemos Cecília com sua perspicácia, apesar dos 9 anos, não compreendendo tudo, mas observando (quando adulta vai rever os acontecimentos do dia do assassinato e dos dias seguintes, e vai estudar a posição da mãe, do pai, do tio Weber e coisas que podiam passar despercebidas, mas que foram escolhas malfeitas). Sabemos da discordância política, apesar da amizade, de Satti e Raul. E aos pouquinhos vamos descobrindo que Carmen gostava de Satti, que Raul ficou estacionado na frente do prédio com uma arma no carro, que Vinícius, de alguma maneira se envolveu com Satti, e tudo leva à desconfiança para o deputado Raul e por último descobre-se que o deputado Satti era gay. Apesar das provas não serem fortes, Raul acabou sendo acusado de assassinato e abalou as estruturas da cidade e da família. Tudo levou muito tempo para ser resolvido: a junção de provas, o indiciamento e julgamento. As crianças foram retiradas da escola.

Jesse retorna de viagem e Ciça conta que se envolveu com uma mulher, Kristen. Ele indignado, arremessa as chaves de casa nela. Se separam, e depois entram em discussão sobre o relacionamento.

Cecília sempre teve dificuldades em entender a mãe, em saber suas posições e agora em uma das conversas fica abismada com a posição política da mãe. A cada conversa, Cecília tem que se estabilizar, realizar um certo ritual para voltar ao seu normal. "É verdade. Porque entender esse país é entender a tolerância ao horror. Entender esse país é entender que subir a pirâmide significa pisar em escombros. Entender esse país é entender minha mãe criança aplaudindo Getúlio, depois dançando para o general Castelo Branco, depois exultante com a redemocratização que elegeu meu pai, depois sacudindo a bandeira verde e amarela em apoio a um capitãozinho saído dos esgotos do Brasil." (pg. 184)

Vinícius se envolve com um amigo, e o menino assustado, some. Ele então se deu conta que era “bicha” e começa a frequentar o Anjo Azul, um bar para pessoas como ele. "As bichas que já nasceram orgulhosas uma geração depois não entendem como a gente podia sentir essas coisas que às vezes era, sim, ódio de si mesmo. É que não tinha arco-íris, minha filha, era só porrada. Porrada e o pânico de morrer de aids." (pg. 238) E no bar descobre que Satti também o frequenta, e acaba indo para a casa do deputado. O pai toma conhecimento de que o menino ia ao Anjo Azul e à casa de Satti e então fica desesperado. Tudo leva a crer que os motivos do assassinato seria a partir do conhecimento de toda essa situação, da homossexualidade do filho e do amigo. Vinícius se drogava, se internava, e perdia nas matérias. "Ficou chocado. Mal havia descoberto o que era. Repetiu todos os dias no espelho, era uma coisa ainda tão íntima, não queria de jeito nenhum conceder ao pai o direito de classificá-lo." (pg. 254)

Raul foi indiciado e julgado, mas absolvido por 14 votos a 7. E a explicação de absolvição acabou recaindo sobre a escolha sexual do assassinado, além da falta de provas contundentes: "A suposta perseguição do indiciado, segundo ele, tampouco foi testemunhada por alguém; tratava-se de algo que de novo Satti havia reportado a terceiros, toda essa ficção tendo sido portanto engendrada pela vítima para assim conseguir esconder sua homossexualidade." (pg. 275)

Ciça resolve ir a Porto Alegre, depois de 16 anos de ausência, mais pelo irmão do que pelo pai. Vinícius é agora um homem de 46 anos e Ciça tem que entrar para visitar o pai. "Só me aproximo do meu pai e olho bem nos olhos dele." (pg. 283)

A ambientação do livro é excelente. A autora resgata com maestria os anos 1980, nos colocando no plano Cruzado I e II, falando das músicas, marcas de cigarros, cobertores, comerciais, filmes, hábitos e costumes de uma época. Aprendi mais sobre dioramas (me identifiquei, pois trabalhei com animais empalhados por 24 anos e vi muitos dioramas no Museu em que trabalhava). Estão presentes temas políticos além de abordar preconceitos e aids. Algumas críticas são contundentes, sobre os inseticidas e sobre ditadura.

Eu vivenciei muito os anos 1980 então é legal rever esses acontecimentos de que eu nem lembrava mais, tais como as maquininhas do mercado que remarcavam as mercadorias a toda hora, e havia os fiscais (compradores) na porta de supermercados, além das linhas telefônicas que eram passadas de herança. Eu tinha uma e meus irmãos também.

Ótima Leitura!

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Diovana.Krauchemberg 12/06/2023

Incrível!
Uma história de ficção que narra um assassinato que aconteceu de verdade em Porto Alegre na década de 80.
A história é tão bem construída que por muitas vezes eu tinha que pesquisar se tinha acontecido mesmo ou era ficção.
Uma história que te envolve tanto, acho que pelo principal fato de nunca terem descoberto quem matou o deputado na vida real e no livro dar várias pistas sobre o que poderia ter acontecido.
Eu simplesmente amei a escrita da Carol, ela é uma autora incrível!
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Luciana 28/05/2023

Não sei muito o que dizer desse livro, é como abrir o diário de alguém e ir acompanhando as histórias.

A escrita e a narrativa são muito boas. Senti falta de desenvolver um pouco melhor o personagem Marco depois adulto.

Foi uma experiência de leitura muito interessante, daquelas que mais do que outras, cada pessoa vai ter uma muito singular.
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Marilia 12/05/2023

Surpreendente
Normalmente tenho alguma dificuldade de engatar em livros que ficcionalizam fatos reais, provavelmente porque é algo bastante difícil de acertar. A escolha sobre o que deve ser criado e o que deve ser lembrado deve ser um martírio para o escritor.
Em Diorama, entretanto, Carol Bensimon costurou com maestria artística cada ponto da trama e emprestou ao imaginário coletivo de todo um estado, um desfecho possível.
O livro é muito bem escrito, cativante e capaz de manter o leitor envolvido até a última linha.
Foi uma experiência maravilhosa de leitura, recomendo!
Ana Sá 12/05/2023minha estante
Acabei de ganhar este livro, sua resenha aumentou minha vontade!


Marilia 12/05/2023minha estante
Eu fiquei presa nele, Ana! Espero que goste :)


Ana Sá 13/08/2023minha estante
Marília, acabei de terminar e adorei também!!


Marilia 13/08/2023minha estante
Que legal, Ana! Fico feliz ??




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