Diorama

Diorama Carol Bensimon




Resenhas - Diorama


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Ana Sá 22/08/2023

Um romance inteligente e envolvente, na mesma medida
Baseado em um assassinato real ocorrido na década de 1980 em Porto Alegre, "Diorama" aborda o crime não sob o prisma do assassino ou da vítima, mas da filha do acusado de tal tragédia social e íntima. Cecília, filha do deputado Raul Matzenbacher, desenha, entre idas e vindas temporais, o retrato macro e micro de um escândalo que abala não apenas sua cidade, mas sobretudo os pilares de sua família de classe média. A meu ver, um romance policial orientado menos pelo crime em si, e mais pela investigação do que havia e do resta de uma família depois que se aperta(m) gatilho(s).

Brilhantemente executada, a obra traz capítulos que se deslocam da Porto Alegre na qual vivia Cecília aos 9 anos, quando tudo ocorreu, e cidades dos Estados Unidos, país escolhido pela Cecília adulta na tentativa de começar uma nova vida ou de apenas fugir da anterior. Aliás, a geografia do romance e as ambientações são um ponto forte; não só sentimos na pele a ponte aérea Brasil-EUA e a ponte temporal BrasilPassado-BrasilPresente, como nos vemos diante de ecos do velho e bom romance policial nacional à la Rubem Fonseca, que desta vez substitui o protagonismo das ruas cariocas pelos bairros da capital gaúcha.

Sim, a meu ver, ética e estética vivem aqui um casamento perfeito, e também o título e seu derivado (a taxidermia, profissão da Cecília) têm culpa no cartório dos acertos deste livro. "Taxidermista" é o profissional que se dedica a remontar/empalhar animais; "Diorama", por sua vez, é a paisagem/cena que se cria com esses animais, em museus de História Natural, por exemplo. Ouvi em uma entrevista que a autora não é taxidermista e que inicialmente começou a pesquisar sobre essa prática por gosto pessoal, sem ter grandes intenções pro romance. Isso até que (como nós, leitoras) ela notasse que não poderia ter feito uma escolha mais acertada. As metáforas e alegorias sobre morte-vida-encenação que a profissão de Cecília traz pra narrativa são genialmente sutis e sempre interessantes. Aliás, nunca mais verei um animal empalhado da mesma forma!

Eu diria que "Diorama" é mesmo um romance de simbioses, entre o político e o íntimo, entre o histórico e o privado, entre os fatos e a geografia, entre passado e presente. E se dei nota 4,5 ao invés de 5, é só para me registrar um detalhe que incomodou a mim e a uma amiga querida, a respeito da voz narrativa:

O que sabemos sobre o crime vem (i) das memórias pessoais de Cecília, (ii) de uma posterior investigação particular feita por ela e (iii) até mesmo de sua imaginação. Acontece que às vezes esse narrador-personagem se transforma num narrador onisciente de forma abrupta e inexplicada. A meu ver, são bem melhores os trechos em que a narradora deixa marcas, mesmo que singelas ou implícitas, das fontes daquilo que ela nos diz, até porque Bensimon sabe fazer isso muito bem, sem quebra de fluidez (justamente: é uma delícia ir percebendo se Cecília está elocubrando ou reproduzindo coisas que ouvi/viu/descobriu... Daí a minha insatisfação quando esse narrador onisciente surge [e permanece] sem pedir licença!). Portanto, pelo que considero ser um tropeço literário, descontei 0,5 da avaliação de leitura.

Num momento em que sobram romances de prosa poética, Carol Bensimon opta por uma história sóbria, sem aforismos, focada na execução de um projeto literário desprovido de grandes adereços. Fiquei encantada com o modo como ela amarra uma narrativa sócio-histórico-política a uma narrativa de si. A narradora não adota um tom confessional, pois não precisa. Cecília se revela mesmo quando opta por calar o "eu" e focar nos outros e nos fatos. Do Brasil hiperinflacionado da década de 80-90 à "família de bem" e ao armamentismo que perduram até os dias atuais, o interior da protagonista é costurado a tudo que há a seu redor, traçando quadros sensíveis sobre infância, memórias, relações familiares, traumas. Sim, é gostoso ler uma boa prosa poética, mas há dramas e tramas que não carecem de poesia para serem brilhantes e, por sorte, "Diorama" vem nos recordar disso.

Obs. 1: A cereja do bolo é, com certeza, o espaço que uma questão identitária, em específico, vai ganhando no desenrolar do romance, mas optei por não tratar disso na resenha porque foi muito prazeroso ir me dando conta desse elemento aos poucos, então decidi encará-lo como spoiler. Mas deixo aqui minha menção honrosa a mais esse acerto da autora!

Obs. 2: Em certa medida, este é um romance musical e a autora disse numa entrevista que montou uma playlist no Spotify pra quem tiver curiosidade em ouvir as músicas que são citadas nele.
Ana Sá 22/08/2023minha estante
Obs. 3: Um obrigada à Tânia, por ter me apresentado a este livro incrível! ??


Flávia Menezes 23/08/2023minha estante
Que resenha, amiga!! Uma verdadeira análise crítica que merece ser lida antes de conhecer melhor essa história! ??????


Ana Sá 23/08/2023minha estante
Obrigada, Flávia!! ??


livroselabirintos 31/08/2023minha estante
Melhor resenha ???? Muita satisfação em ler seu texto!!! Eu é que tenho que agradecer porque gosto muito mais do livro!!


livroselabirintos 31/08/2023minha estante
Gosto muito mais depois do seu texto!


Marina.Defensor 13/02/2024minha estante
Que resenha ótima! Parabéns!


Daniel 20/02/2024minha estante
Eu amo todas as bandas citadas durante a leitura: The Smiths, The Cure, Depeche Mode, Echo and Thr Bunnymen, Cocteau Twins, Jesus and Mary Chain.... Melhor trilha de livro com certeza!




Flavio Rocha 15/10/2022

Sobre memórias e dioramas
Carol Bensimon é uma escritora muito talentosa e Diorama se apresenta como uma de suas obras mais consistentes. Ao recriar acontecimentos envolvendo uma figura importante do cenário político porto-alegrense, a narrativa nos apresenta personagens psicologicamente densos e que estão relacionados de alguma forma ao fato histórico. A filha do principal suspeito é uma taxidermista que se muda para os EUA. O lance de gostar de reproduzir cenários transcende para uma análise da própria vida - ela procura dar forma às memórias na tentativa de entender e, quem sabe, perdoar o pai. Cecília, nessa busca, revela dilemas sobre maternidade, sexualidade e política. Um livro imperdível.
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@limakarla 25/06/2023

Eu vi muitas pessoas indicando esse livro, falando que era muito bem escrito, então resolvi dar uma chance e ainda bem! Não estava pronta pra ver um novo favorito nascendo no meu coração.

A autora se baseou na história de um crime que aconteceu no Rio Grande do Sul e em cima disso criou seus personagens e enredos tão bem amarrados e repletos de camadas. Existe uma discussão política, discussão sobre sexualidade, relações entre pais e filhos, tudo que eu gosto!

Acompanhamos a aurorar recriar toda a teia das suas memórias, numa tentativa de compreender o que aconteceu com a sua própria família. E isso feito misturando presente, passado e desconfianças que a acompanharam a vida inteira. Simplesmente fenomenal e viciante.
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Marilia 12/05/2023

Surpreendente
Normalmente tenho alguma dificuldade de engatar em livros que ficcionalizam fatos reais, provavelmente porque é algo bastante difícil de acertar. A escolha sobre o que deve ser criado e o que deve ser lembrado deve ser um martírio para o escritor.
Em Diorama, entretanto, Carol Bensimon costurou com maestria artística cada ponto da trama e emprestou ao imaginário coletivo de todo um estado, um desfecho possível.
O livro é muito bem escrito, cativante e capaz de manter o leitor envolvido até a última linha.
Foi uma experiência maravilhosa de leitura, recomendo!
Ana Sá 12/05/2023minha estante
Acabei de ganhar este livro, sua resenha aumentou minha vontade!


Marilia 12/05/2023minha estante
Eu fiquei presa nele, Ana! Espero que goste :)


Ana Sá 13/08/2023minha estante
Marília, acabei de terminar e adorei também!!


Marilia 13/08/2023minha estante
Que legal, Ana! Fico feliz ??




Marcianeysa 19/12/2023

Muito bom!
Amei esse livro, escrita maravilhosa e trama emocionante.
A forma como a autora alterna passado e presente é sensacional.
Um dos favoritos do ano.
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Marcia 18/04/2023

Minhas impressões sobre o livro
Diorama é um livro brasileiro de ficção inspirado numa história real, o assassinato de um deputado da capital gaúcha. A protagonista é Cecília Matzenbacher , filha do deputado Raul Matzenbacher, principal suspeiro de ter assassinado outro politico, o deputado João Carlos Satti. Eu não conhecia essa palavra: "diorama"e ja no começo da leitura aprendemos: "diorama é a representação de uma cena, onde objetos, esculturas, animais espalhados, etc inserem-se em um fundo pintado realisticamente "

O livro nos mostrará duas tramas: o período do assassinato, quando Cecília ainda era uma garota de 9 anos e a outra que nos mostra a Cecília ja adulta, morando nos USA trabalhando com diorama. No final conhecendo toda trama percebemos a analogia do diorama com a história da  protagonista: recriar, reviver...

Gostei muito da escrita e dos temas abordados: família, ciúmes, preconceito, crime, investigação, julgamentos de leigos, da sociedade e da polícia, traumas, amor, amizade, drogas, fuga...

O assassinato aconteceu nos anos 80, época de tecnologia precária , de muito preconceitos e bullying.

A brutalidade com que a sociedade discrimina pessoas, rotula, julga e dissemina histórias de forma maldosa é assustador, tudo  sem pensar no sofrimento da família, nos traumas e dores que muitas vezes nao se curam.

Esse livro aborda esses pontos de forma brilhante e nos emociona.

Ao terminar percebemos o quanto temos a refletir e nos empenhar por termos mais empatia, mais amor e compreensão.
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Dani.Odete 09/08/2023

Lento!!!
Não sei se...por não ter conseguido me conectar com a história e com os personagens,mas a leitura se arrastou a ponto de eu só querer que terminasse logo.
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Ferdy 08/08/2023

Magnificamente escrito! nunca imaginei que eu leria um livro que explicasse taxidermia - trabalho da protagonista, a Ciça - e fosse tão interessante, a ponto de achar que o livro era autobiográfico. E a história do crime contada aqui foi tão bem narrada que olha...que presente pros amantes de um bom livro!!
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Alexandre Kovacs / Mundo de K 26/11/2022

Carol Bensimon - Diorama
Editora Companhia das Letras - 288 Páginas - Capa de Elisa von Randow - Foto: Smithsonian Institution Archives - Lançamento: 2022.

O mais recente romance de Carol Bensimon, depois do premiado O clube dos jardineiros de fumaça (2017) vencedor do prêmio Jabuti de Melhor Romance e finalista do prêmio São Paulo de Literatura, foi inspirado no assassinato do deputado e radialista José Antonio Daudt, morto com dois tiros de espingarda na cidade de Porto Alegre em 1988, um crime ainda sem solução até hoje. O principal suspeito na época, o também deputado Antônio Carlos Dexheimer Pereira da Silva, era considerado um dos seus melhores amigos. Dexheimer tinha arma de caça e um automóvel semelhante ao visto na cena do crime, supostamente motivado por ciúmes de sua ex-esposa, de quem se separara havia três meses. Em Diorama, Carol Bensimon construiu uma extraordinária adaptação ficcional para esta história e as possíveis consequências na vida dos personagens.

Diorama é uma palavra chave no romance e o significado é apresentado logo na abertura, antes mesmo das epígrafes: "s.m. 4 MUSEOL representação de uma cena, onde objetos, esculturas, animais empalhados etc. inserem-se em um fundo pintado realisticamente. (Houaiss)". Na ficção de Carol Bensimon, Cecília Matzenbacher, narradora do romance, é a filha do deputado acusado de assassinato e trabalha na atualidade nos EUA como taxidermista, uma função conhecida vulgarmente como empalhadora, ela tinha nove anos quando ocorreram os eventos que marcaram a família para sempre. Em uma narrativa não linear, bem construída pela autora, Cecília relembra passagens da sua infância e adolescência, enquanto tenta resolver os impasses da sua vida profissional e sentimental na atualidade.

"Na minha vida adulta, encontrei muito mais caçadores do que gostaria de ter encontrado. Isso aconteceu a partir do momento em que comecei a frequentar as edições bianuais do Campeonato Mundial de Taxidermia, algo que eu precisava fazer se quisesse ter uma carreira na área. Era um evento cheio de caçadores. Os que tinham mais de cinquenta anos haviam aprendido a profissão no curso por correspondência de J. W. Elwood, que anunciara por décadas nas revistas de caça. Os mais jovens haviam esfolado ratos e esquilos e moldado um pedaço de espuma e feito uma cabecinha de gesso e arame de acordo com tutoriais no YouTube. Outros tinham juntado dinheiro para se matricular em formações de quatro semanas em lugares como Kooskia, Idaho, ou Springtown, Texas, e então voltavam para sua cidade natal e abriam uma pequena oficina na garagem de casa, onde atendiam os caçadores da região, montando três cabeças de cervo por dia em manequins de poliuretano comprados on-line. [...] E havia também o pessoal que eu chamava de naturalistas. Eram bem poucos e não tinham um jeito específico de se vestir. Eu queria aprender com eles. De todas as pessoas que atuavam na Taxidermia, eu os considerava os mais obsessivos. Eram movidos pela ideia fixa de recriar a natureza à perfeição. Nisso se diferenciavam dos caçadores, os quais inevitavelmente caíam na tentação de exaltarem a si mesmos através do animal. O que quero dizer é que acontecia com frequência de os caçadores montarem suas taxidermias como se aqueles animais fossem mais imponentes e audaciosos do que de fato eram quando vivos. [...]" (pp. 57-8)

Aos poucos o leitor vai conhecendo os detalhes do assassinato do deputado João Carlos Satti – como é nomeado no livro –, e as possíveis motivações para o crime em um criativo enredo que mistura ficção e realidade. Ao mesmo tempo em que relata o contexto dos anos oitenta, com base em uma detalhada pesquisa histórica, Carol Bensimon aborda também alguns importantes temas atuais, como a nossa responsabilidade pela preservação da natureza e o preconceito recorrente em nossa sociedade quanto as questões de sexualidade e identidade de gênero, tudo isso na prosa veloz e sempre entremeada por referências literárias e musicais, uma característica do estilo da autora.

"Durante o velório e o enterro é que meu pai se descobriria suspeito. Alguns amigos o alertariam. Naquela manhã – o que parecia um pouco estranho –, ele não havia ligado a televisão e o rádio e nem sequer atendido o telefone, mas, antes mesmo de o corpo de João Carlos Satti percorrer o trajeto entre a Assembleia Legislativa e o Cemitério da Santa Casa, sob o aplauso das pessoas que se amontoavam nas calçadas, a polícia já estava encaixando as primeiras peças do caso. Quatro testemunhas tinham visto na cena do crime um Monza cinza-escuro com aerofólio. Paulo Bittencourt, o chefe de gabinete de Satti, descrevera à polícia os sentimentos da minha mãe (intensos, um pouco obsessivos, certamente para além da amizade). Bittencourt, assim como Glória Andrade, também declararia que Satti vira o carro de Raul na frente de sua casa alguns dias antes do crime. / No fim daquele mesmo dia, meu pai foi aos estúdios da Rádio Gaúcha tentar se explicar. Conversou com o jornalista Pedro Martins. Tenho aqui comigo o arquivo digital e a transcrição dessa conversa que acabou sendo usada pela acusação no julgamento porque era vergonhosamente comprometedora. A entrevista em questão se tornaria um pesadelo para Arnaldo de Souza Andrade, futuro advogado do meu pai (Tu nunca deveria ter ido pra frente do microfone naquele estado, Raul). Seu nervosismo era palpável na voz, e as coisas que disse soavam uma mistura de discurso político vazio com a confusão mental de quem sabe que perdeu o controle da situação." (pp. 104-5)

Um livro recomendado porque alterna estilos como: romance policial, histórico e de formação, surpreendendo o leitor com personagens convincentes – destaque para a mãe de Cecília e o irmão Vinícius –, que parecem sempre estar fugindo dos seus próprios traumas, mesmo sabendo que isso é impossível. Entre as recordações da cidade de Porto Alegre nos anos oitenta e o trabalho na atualidade como taxidermista nos museus de história natural dos EUA, Cecília Matzenbacher tenta reconstruir a sua vida, mas o passado vem cobrar o seu preço.

"Jesse quase me acerta no rosto com minhas chaves de casa, do carro e da Norton. O chaveiro metálico da sequoia estilizada bate na parede e despenca. Coloco a mão na bochecha, sentindo o impacto que não aconteceu, depois pego as chaves e as guardo no bolso enquanto Jesse me olha de boca aberta com um pedido de desculpas entalado na garganta. Não dou mais tempo de ele dizer nada. Ele gagueja ao me ver indo na direção da porta e então eu já estou atravessando a rua quando ele finalmente fala: 'Desculpa, eu me descontrolei, Cecília, que coisa horrível, eu... me perdoa, por favor!'. Entro no carro com Jesse em meu encalço e ele me deixa fechar a porta sem resistência porque agora caiu em si. Acelero e começo a chorar assim que vejo Jesse pelo espelho, parado no meio da rua como se eu ainda pudesse mudar de ideia. Amanhã talvez ele pense que o episódio foi a desculpa perfeita para eu fugir, como sempre. Pode ser que ele tenha alguma razão." (p. 177)

Sobre a autora: Carol Bensimon nasceu em Porto Alegre, em 1982. Seu primeiro romance, Sinuca embaixo d’água (2009), foi finalista do Jabuti e do prêmio São Paulo de Literatura. Também é autora de Todos nós adorávamos caubóis (2013) e O clube dos jardineiros de fumaça (2017), esse último vencedor do prêmio Jabuti de Melhor Romance e finalista do prêmio São Paulo de Literatura. Os livros de Bensimon foram traduzidos nos Estados Unidos, na França, na Itália, na Espanha e na Argentina. É mestre em escrita criativa pela PUCRS. Vive em Mendocino, na Califórnia.
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ceciliagarciaal 07/01/2023

[DIORAMA - CAROL BENSIMON]

Você já leu um livro e teve a sensação de que a leitura era parecida com outra atividade? Era um livro, mas tinha a dinâmica de assistir a um filme ou modelar algo com massinha? Pra mim, ler ?Diorama? me fez reviver o prazer de montar um quebra-cabeças.
Na primeira parte, Carol Bensimon entrega as peças das bordas, que dão uma ideia do tipo de paisagem que vamos encontrar montada ao final. Talvez por isso seja a parte um pouco mais lenta do que as demais: ainda estamos tentando entender como todos aqueles pedaços da história familiar conturbada de Cecília Matzenbacher, a narradora. Filha de um homem acusado de um crime que mobilizou a opinião pública e de uma mulher que traz consigo a materialidade do que há de pior no Brasil, ela ?fugiu? da família para um intercâmbio nos EUA e nunca mais voltou. Mas fuga não é alforria e Cecília percebe isso enquanto conta sua história, após o AVC do pai que recoloca sua relação com a família em perspectiva enquanto ela enfrenta uma crise no casamento.
O que vem depois é o momento de montar pedaços da paisagem aos poucos: a família disfuncional e as consequências, uma narradora perdida, o processo duro dela de se encontrar fazendo uma atividade profundamente conectada com sua infância (morro de aflição de taxidermia, mas dei conta de ler sobre a profissão de Cecília numa boa; a prosa habilidosa da Carol consegue não ser grotesca mesmo diante do esfolamento de um leão).
Todos os trechos dentro de cada capítulos ajudam na composição da imagem final. Nada que está ali é descartável e fica a reflexão de que é isso na vida também: somos, como minha xará, uma amálgama da forma que lembramos das coisas que vivemos, das escolhas que fazemos, dos sentimentos diante do que consumimos e das identidades que vamos construindo.
Ao final, o que temos é um quebra-cabeças montado ? e assim como um diorama é uma versão do real, o quebra-cabeças contado por Cecília também não é uma fotografia dos fatos sobre o assassinato possivelmente cometido pelo pai, mas uma montagem de peças que, ao final, nos lembra uma foto, sem sê-la e nos encanta como se fosse a realidade.
Recomendo profundamente a leitura.
Rony 07/01/2023minha estante
??????


barbaramr7 30/01/2023minha estante
que análise linda! obrigada




Rafael2350 12/01/2023

Eu já ensaiava há meses ler um livro da Carol Bensimon, até tomar a atitude e começar a partir dessa obra e, pqp, me arrependo de não ter dado chance a ela antes! Uma escrita na qual a gente se identifica, de certa forma trazendo para gente lembranças sobre a dificuldade de ser uma pessoa LGBTQIAPN+ nos anos 80/90, sempre relacionados a uma vida abjeta. Todo o processo de enfrentamento da protagonista, tanto nas questões presentes, como aos fantasmas do passado me da vontade de acolher a protagonista e em especial ao seu irmão mais velho!
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Dilso 10/11/2023

Baita livro bom...
O QUE FOI ISSO? Que livro... Impressionante a forma como a autora entrelaça os tempos e narrativas (e sem se perder) fazendo com que ambas sejam costuradas de maneira tão competente que chega a assustar. Uma obra mutíssimo bem escrita que reconta um crime acontecido de fato na Porto Alegre de 1988, espantosamente encaixado e reconstruindo as lacunas através da ficção e a troca de nomes. Não conto mais. Estou muito empolgado e suscetível a perigosos spoilers. Gente, se vocês gostam de uma história bem contada e com algumas reviravoltas de tirar o fôlego, então leiam o "Diorama" e depois voltem para me dizerem o que acharam. Duvido que alguém não goste.
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Leonardo.Goulart 12/08/2023

Diorama é a história de um assassinato tanto quanto é a história de uma família. Em meio a uma Porto Alegre da década de 80, o preconceito e a política ditam as percepções da população. Mas uma menina tem outra visão de tudo.

Achei que fosse me apegar mais, faltou algo. Um aprofundamento das relações familiares? Mais Jesse? Mais Vinicius? Nada disso empobrece a narrativa, muito boa, mas senti a falta de uma conexão maior.
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Romulo 15/04/2023

Muito bom
O caso real que embasou o livro me era desconhecido e fui pesquisando junto com a leitura. Muito legal a trama e o desfecho! Vale a pena!
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