spoiler visualizarGuilherme 22/09/2023
Resenha Starsigth, Veja além das estrelas do autor Brandon Sanderson
Resumo: Starsigth, veja além das estrelas é um livro lançado em 2019 pelo escritor Brandon Sanderson, sendo uma sequência de Skyward conquiste as estrelas. O livro possui 519 páginas (encontrei informações discrepantes quanto a isso então estou usando o contador do meu e-book mesmo). A história se passa 6 meses após os eventos finais de Skyward .
Devo confessar que enrolei um pouco para iniciar essa leitura, por vezes passei livros na frente deste (reis de wild foi um deles) pois gosto muito de Skyward e tinha receio de me decepcionar com sua continuação.
Aviso, vou ter que fazer algumas comparações entre os dois volumes da serie, nesta resenha. Acho que isso faz sentido e deixa o texto um pouco mais dinâmico. Lembrando que haverá spoilers de ambos os livros.
Criação de Mundo (expansão do universo)
Uma das características marcantes do primeiro volume desta série foi a construção de mundo mais lenta, o que não é uma das características do autor, que geralmente é ávido por explicar as diferentes culturas e instituições de seus mundos. Ele opta por não dar muitos detalhes e a revelação do que realmente está acontecendo ajuda a tornar o clímax do primeiro livro ainda mais poderoso.
Neste volume as coisas já são mais tradicionais, uma vez revelada a condição de prisioneiros em que a humanidade se encontra, ficou difícil manter todo o mistério e o autor optou por uma outra abordagem, passando a logo no início revelar algumas informações que até então tinha ficado subentendidas.
A diferença inicial é que esse livro passa pouco tempo em Detritus, o que me surpreendeu bastante. Logo de cara, somos informados que a humanidade conseguiu reativar algumas das estações sendo essa a primeira expansão de universo.
Apesar disso, também não perdemos muito tempo ali, pois logo somos levados a Visão Estelar, sede da Supremacia, capital da Coalizão que prendeu a Humanidade.
Outro ponto que o autor expande é quanto às espécies alienígenas, passando estas a ter rosto (mais de um em alguns casos) e objetivo, além de outras características como gestos e expressões faciais próprias. Os olhos misteriosos também ganham nome (Desbravadores) e eu realmente gostei do tratamento dado a eles neste livro.
Personagens
Neste livro voltamos com nossa querida protagonista Spensa (spin), sua nave M-BOT e sua esquadrilha, com Jordan (babaca), a Flácida e com o Velho Cobb agora no comando.
Fiquei um pouco decepcionado com a saída de Ironsides da história, pois gostava da personagem e embora seja justo ela ter perdido a função, poderia ter sido dada outra atividade para ela, principalmente se considerarmos a situação de necessidade que o povo de Detritus se encontra.
A história, contudo, nos leva para outro lugar e vários outros personagens são introduzidos e trabalhados, deixando os demais (com exceção da protagonista) de lado e relegados a interlúdios e pequenas pontas.
Fiquei dividido neste ponto. Eu gostei das adições, mas realmente senti falta dos outros personagens que tinham tanto destaque no primeiro volume. Nós vimos uma família ser formada e aqui passamos pouco tempo com ela. Isso, na verdade, esconde uma escolha do autor que achei bastante inteligente, mas vou comentar isso mais para frente.
Acho estranho Alanik (real) aparecer tão pouco, gostaria de saber o que aconteceu com ela depois.
História
Após a base humana em Detritus ter sido quase destruída, os membros da base Ígneo conseguiram material e dados suficientes para melhorar a tecnologia chegando ao ponto de reativar algumas estações orbitais antigas.
Com isso é relevado qual foi o destino dos humanos originais do planeta, tendo sucumbido pelos terríveis Desbravadores que se voltaram contra os humanos após tentarem usar essa espécie como arma de guerra .
E então com a chegada de outra citônica em Detritus, Spensa vê a oportunidade de se infiltrar na Supremacia e descobrir o segredo por trás dos hipersaltos e um pouco mais sobre sua origem citônica.
Agora, Spensa terá de conviver diariamente com o inimigo e tentar obter informações cruciais para a sobrevivência de seu povo.
Bom, eu sem dúvida não esperava por isso. Não significa que eu não tenha gostado, mas é diferente da proposta do primeiro volume.
Devo ressaltar que dessa forma o autor manteve um tema do primeiro livro e o que ao meu ver passa a ser um dos temas desta série de livros. O sentimento de não pertencimento e de solidão.
Nos dois volumes por circunstâncias diferentes Spin não parece se adequar ao lugar que se encontra e tem de lidar com a saudade de seus familiares enquanto aos poucos se adapta a um novo ambiente.
A principal diferença aqui é que como o leitor acompanha o ponto de vista da Spensa, nós também somos meio que privados dos demais membros da esquadrilha celeste. E isso potencializa os momentos de solidão da protagonista, pois fica muito mais fácil criar empatia por ela ao vivenciarmos a mesma situação dela .
Além disso, todos os membros da nova esquadrilha têm alguma característica fundamentalmente diferente que dificulta a criação de confiança plena pela Spin. Os kristen são pequenos e praticamente são uma civilização toda em uma nave, Vapor não possui um corpo físico, Morriumbur é duas pessoas combinadas esperando nascer. Brade é humana, mas foi criada fora da humanidade e renega sua origem.
Até mesmo M-bot, que por mais que seja companheiro/ nave não é necessariamente vivo, o que expõe de uma nova maneira suas limitações no entendimento da protagonista, passando ele mesmo a ter como objetivo “evoluir” para além de uma IA sendo este seu conflito neste volume.
Minha opinião
Eu tenho algumas considerações quanto a Starsigth. Existem muitos momentos bons neste livro, particularmente gostei muito da parte em que Spin volta a dormir dentro do cockpit da nave por nostalgia e saudade dos tempos de academia.
A nova atmosfera de temor em relação aos Desbravadores também é muito interessante e por mais que seja bem simples eu gostei da premissa de disputa pelo poder que permeia a Supremacia.
Não posso deixar de notar que novamente Brandon faz seus personagens tomarem uma postura de tentativa de solução não violenta dos conflitos, o que eu realmente acho muito bom.
Mas nem tudo são flores e agora passarei a citar pontos que não gostei tanto na obra.
Primeiro, eu não posso deixar de ver algumas conveniências aqui e ali. Acho muito difícil de acreditar que o disfarce holográfico da Spin seria suficiente para escondê-la. Será que em um universo tão plural quanto ao que o livro nos leva a acreditar, nenhuma espécie desenvolveu um outro sentido como o principal? Todos veem cores do mesmo modo que os humanos?
A segunda é a aparente origem natural dos citônicos. Eu acreditava que eles tivessem vindo de algum tipo de engenharia genética, saber que eles surgem na natureza, como este livro leva a crer me decepcionou.
Também achei que o gigante mistério quanto a tecnologia de hipersalto ser na verdade o uso lesmas especiais um tanto estranho, mesmo que eu tenha de admitir que não é como se o terreno não tivesse sido preparado. Mesmo assim me parece um tanto cômica a ideia de uma lesma possuir poderes de teletransporte.
Por fim, mas não menos importante, Jordan e sua missão. Sinceramente eu não aguentei e ri ao final do último capítulo dele. Após o segundo interlúdio eu esperava que ele seria extremamente relevante na solução do problema principal. Eu não podia estar mais enganado.
O pior é que vendo pela a ótica do personagem deve ter sido igualmente frustrante, consigo facilmente ver ele imaginando encontrar alguma arma ou tecnologia ancestral e no fim ele encontra um punhado de lesmas. Não sei se a intenção era ser cômico, mas acabou sendo
Conclusão
Starsigth é uma boa continuação que acrescenta bastante a mitologia da série, mantendo a consistência e desenvolvendo as limitações da sua protagonista. O livro trabalha muito bem momentos de ação intercalados com a comédia, mas ao mesmo não tem medo de se adentrar em temas como solidão e não pertencimento.
Acredito que Skyward é um livro superior, mas Starsight não faz feio. Como costume o livro deixa um belo gancho para o próximo volume ao qual estarei esperando pacientemente pela publicação.