Jô 05/06/2024
E então, chegamos à ?Cálice dos Deuses?. O livro tem o público-alvo muito bem estabelecido: os fãs da saga, especificamente aqueles que a leram quando eram mais novos, cresceram com os personagens e hoje estão na mesma faixa etária, vivendo as mesmas situações que eles nessa nova aventura. O sentimento de nostalgia é dominante durante toda a leitura, incentivado por diversas menções de acontecimentos dos cinco primeiros livros.
A nostalgia sustenta o livro (até mesmo de forma literal), ao ponto de que, se tira-la da descoberta, resta uma aventura simples, que seria um ótimo material para um conto, mas sem a profundidade necessária em um romance.
As etapas da missão seguem o mesmo protocolo já previsto em outras obras, mas que nunca apareceu de forma tão evidente quanto aqui. O livro é quase como se dividido em fases de videogame, onde os personagens cumprem uma tarefa, conversam com aquele que a designou e podem cumpri-la oficialmente.
Por outro lado, acompanhar o desdobrar das tarefas não chega a ser um desafio, devendo-se muito pela leveza da escrita, mas principalmente pela dinâmica dos personagens, que são a melhor parte do livro.
Percy, Annabeth e Grover são velhos conhecidos. Sabemos de suas vidas inteiras ? seus medos, pensamentos e inseguranças ? fazendo com que seja divertido e familiar acompanhá-los mais uma vez (novamente, o sentimento de nostalgia sustentando o livro). A dinâmica de suas relações funciona muito bem, e coloque-os em uma missão sendo mais velhos faz com que se torne evidente o amadurecimento deles.
Mostrar a evolução dos personagens é o que pode justificar a existência dessa nova trilogia. Ao registrar momentos do passado, ao mesmo tempo em que pensam no futuro, os três amigos conseguem transparecer como os acontecimentos dos livros anteriores os afetam, algo que nunca teve muito espaço durante as narrativas. Situar os acontecimentos desse livro entre ?Heróis do Olimpo? e ?As Provações de Apolo? é uma decisão acertada e ajuda nesse ponto, já que explora alguns acontecimentos e reações dos personagens que acabam passando por golpes, mas que explicam suas atitudes em muitos livros.
?O Cálice dos Deuses? não é um livro terrível, mas também está longe de ser um dos pontos altos do universo de Percy Jackson. Mesmo que se escore nas memórias afetivas dos fãs, é inegável que tenha sucesso em despertar esses sentimentos, fazendo com que os leitores se envolvam e acabem por ter uma experiência positiva com a história.