quinn.genovez 15/01/2024
O salto, a queda e a carne
Que EXPERIÊNCIA foi ler esse livro.
Olívia Guerra era uma poeta fracassada de trinta anos. era também mãe e dor. até que ela comete suicídio e sua filha, Maristela, de oito anos, joga os livros encalhados da mãe juntos. assim nasce um fenômeno: a poeta que se mata junto de seus livros. ela passa a estampar camisas, canecas... se torna a artista da geração, a poeta que inspira as próximas gerações.
e Maristela tem que lidar com tudo isso: a ausência. é um livro sobre ausência. ausência de mãe, de infância, de vida. Maristela é agora produto, assim como o cadáver de sua mãe. filha da grandiosa Olívia Guerra. poeta crua, poeta da melancolia, poeta-salto-do-nono-andar.
até que, certo dia, o editor de uma coletânea inédita de poemas da Olívia decide chamar Maristela para escrever o prefácio. ela entrega um prefácio de 180 páginas. o livro é o prefácio. obra visceral, sensacional e humana.
foi uma honra gastar todos os meus post-its laranjas e rosas com esse livro. tanto senti, tanto chorei... liana ferraz, você foi luz.
quotes favoritos:
"tenho quase trinta anos e ainda não nasci"
"a literatura de uma mãe que salta da janela é carne: um cadáver que se vende embalado."
"e eu,
destruída como se
fosse eu
o corpo sempre em queda.
ele,
destruído como se
fosse ele
o chão sempre à espera."
"gostaria de me deitar e descansar em cima da pele destrinchada ou dentro do guarda-roupa vazio. tanto faz. queria descansar num lugar que só pode ser inventado.
sigo escrevendo porque sou determinada aos fins. obstinada.
quando começo alguma coisa, geralmente começo pelo fim e, enquanto não o alcanço, sinto que nem comecei. entende?
mais uma herança de mamãe: o fim como o começo mais estrondoso. o fim que berra! a obediência cega em direção ao grito."