Amanda 01/04/2023
CUIDADO COM A SEDE AO POTE
Eu já sabia a história da Flordelis, pelo menos a contada pelo Ulisses Campbell nos inúmeros podcasts com a partição do jornalista, não me importo com spoilers mas mesmo assim o livro me decepcionou, não sei se por criar expectativas demais para descobrir como a pastora encarnou uma história tão absurda ao ponto de colocar qualquer obra de Nelson Rodrigues no chinelo ou pela minha curiosidade para descobrir como o Rio de Janeiro se tornou o Estado mais intolerante em relação às religiões de matriz africana sendo que as igrejas evangélicas segundo relatos do próprio escritor eram terreiros anteriormente.
A narrativa é fluída na primeira leitura, na ida ao litoral num bate e volta passaram-se 100 páginas tranquilamente.
Flordelis nasceu do Rio de Janeiro e se criou na favela do Jacarezinho onde sempre teve contato com a religião, ou melhor dizendo religiões sendo de um lado, a religião de matriz afro (Umbanda, Quimbanda, Candomblé, Nação?) e outra a igreja evangélica que estava em ascensão na época, trocando miúdos a organização era: Igreja pela manhã e terreira à noite mas não necessariamente nesta ordem já os cultos religiosos foram separados por dias intercalados.
A pastora teve no seu primeiro casamento sua filha Simone de Lis que primeiro namorou o pastor Anderson do Carmo, ou seja, o marido de Flor antes foi seu genro porém ela o conheceu ainda quando estava no ventre porém a história contada que Anderson se apaixonou por ela no instante que a viu cantando e iria amarrar seu burro ali.
A cantora gospel no começo tinha uma certa nobreza em adotar compulsoriamente, queria imitar Gideon mas quem conhece a história sabe que 70 filhos 69 morreram e é humanamente impossível sustentar 50 filhos.
Meu problema com o livro são “recheios” mais conhecidos como plano de fundo, sei que alguns torcem o nariz para a histórias paralelas mas faço parte do clube que amam essa forma de narrar os fatos, porém esse livro não tem nenhuma que fosse interessante como a da Penélope ou a Tia do Fogo, as escolhidas para obra foram rasas e aguadas ora não podiam colocar algum outro político que iria em desacordo com a própria crença? Um evangélico que se consulta com tarô mas diz que é pecado, alguém que queria fama além da Flor e fez trabalhos religiosos até um ateu cético que faz mapa astral no sigilo eu aceitaria. Não menosprezo porém também não adulo e não é nada diferente do que podemos encontrar em Spotlight.
Resumidamente pastor Anderson não era santo e gabava-se por ser o 514 na Câmara dos Deputados além de tudo era visionário e sabia exatamente o que fazer para sua família ter relevância e popularidade como participar em programas de TV e até um filme onde os atores acharam a causa tão nobre que não cobraram remuneração e o marido também era controlador com as finanças sendo que a mãe de 50 filhos sequer sabia quanto ganhava e suas perucas eram escolhidas pelo pastor.
Dos livros da trilogia Mulheres Assassinas esse apesar da história esse é o mais fraquinho e se quiser saber mais sobre o crime que é longo recomendo assistir os depoimentos dos filhos pois no livro, talvez pela demora do julgamento não é tão destrinchado, talvez no próximo isso aconteça.