Bela 27/02/2023"Não é o amor que sustenta os relacionamentos, é o jeito de se relacionar que sustenta o amor" SPOILER/RESUMO DO LIVRO:
A história desse livro é sobre uma família e ela é narrada pelo ponto de vista de todos os seus integrantes em diversos tempos diferentes. Rita sente que não foi amada pela família e depois de muitos desaforos da mãe, ela rompe com a família, mas dez anos depois ela descobre que a mãe está morrendo e que precisa revê-los. Assim, somos apresentados ao ponto de vista dos irmãos: Lucas sempre fora o preferido, fazendo zero esforço para receber todo o amor de sua mãe, mas desde pequeno era um menino passivo, igual ao pai. Marília era o orgulho da mãe, uma filha que só ajudava, mas que no fundo sentia uma forte pressão sobre si mesma para manter a mãe forte e a família funcional. Rita, era a filha de quem a mãe não gostava de conviver, apanhava e era constantemente criticada, por isso a menina cresceu sem saber receber amor.
Lucas era amigo de Rita, mas nunca a defendia. Marília e Rita se invejavam e nunca tiveram boa relação. Cada um dos filhos cresceu com uma visão da mãe, que era uma jovem negra cheia de sonhos, que perdeu a oportunidade de um bom emprego para o homem que viraria seu marido. Eles se casaram com a expectativa de uma vida feliz, mas conforme os filhos chegavam os sonhos eram enterrados junto com a felicidade conjugal. Lucas se casou, mas nunca conseguiu ter filhos, precisando aprender a viver sem isso. Marília tinha um único, queria garantir para o menino que haveria amor suficiente para ele. Rita tinha medo de ser mãe porque não queria causar nos filhos as mesmas dores que carregava, mas estava grávida quando rompeu com a família, ela fez isso por ela e pelo filho e se saiu muito bem com sua própria família.
No reencontro, a mãe realmente morre, e em seus últimos minutos dá um único elogio sincero para a filha, mas não pede desculpa por ter sido a mãe que foi. Depois do velório, e de receberam cada um, um presente da mãe, eles precisam se organizar para não deixar o pai sozinho, o que acaba aproximando os irmãos, que finalmente terão a oportunidade, depois de grandes e maduros de conhecerem uns aos outros e poderão viver como uma família funcional, que reconhece suas falhas, que se amam e se esforçam para não machucarem uns aos outros. Me identifiquei bastante com Marília, a mulher chata que tem medo de que as coisas desabem porque sempre se sentiu responsável por manter tudo de pé: "seria mãe de si mesma e do menino, não precisaria ser o híbrido de filha e mãe da mãe, o mutante que aprendeu a ser desde muito nova".
Esse livro fala sobre diversos assuntos em uma narrativa que prende o leitor. Discorre sobre o machismo e como os homens são leves porque seus pesos recaem sobre os ombros das mulheres a sua volta, que por sua vez, dependem uma das outras para manter o mundo girando. Mas acho que o cerne da história está na maternidade e em como isso marca uma mulher como gado queimado a ferro quente: "o filho trouxe de presente a percepção de que a maternidade era algo enorme. Ele era a materialização da sua própria potência. Se homens transformavam a vida de uma mulher, ela havia feito um homem - haveria poder maior que esse?". E como uma mesma mulher exerce a maternidade de forma diferente para seus próprios filhos. Achei esse livro genial. A autora é impecável e essa é uma leitura de deleite, recomendo de olhos fechados para qualquer um.