Yasmin O. 17/03/2024Literatura espanhola. Deleite de livro, visceral, com maldições intergeracionais, repleto de "female rage", vingança, ressentimento, contra os patrões, os homens desprezíveis, "os parentes, os policiais, os padres, os alcaguetes, quem quer que fosse", narrado em primeira pessoa por avó e neta, as párias do seu povoado, consideradas bruxas, rogadoras de pragas (adoro! rs), que enquanto fazem um "amarrado" com fios de cabelo rezam o rosário.
"(...) Não lhês dê descanso virgenzinha minha porque nós não o temos". (pág. 66).
"(...) Estava claro que esta família era maléfica, bastava nos ver todas viúvas e solteiras e sem homens porque nenhum aguentava." (pág. 106)
E aqui, assim como em Espelho Partido da maravilhosa Mercê Rodoreda, a casa é um dos personagens, uma entidade viva, que como um "apodrecedouro" consome tudo, com seus mortos embaixo das camas e dentro dos armários, inclusive os fantasmas da Guerra Civil Espanhola, que também têm lugar no livro.
"Nesta casa não se herda dinheiro nem anéis de ouro nem lençóis bordados com as iniciais, aqui o que os mortos nos deixam são camas e ressentimento. A malquerença e um lugar para se largar à noite, essas são as únicas coisas que você pode conseguir nesta casa". (pág. 10)
"É que nesta casa os mortos vivem tempo demais e os vivos pouco demais. Aquelas que estão no meio, como nós, não fazem nem uma coisa nem outra. A casa não nos deixa morrer mas tampouco viver fora dela." (pág. 77)
"A velha tem razão quando diz que nesta casa a raiva nos come, mas não é porque nascemos com algo retorcido por dentro. Aquilo vai se retorcendo depois, pouco a pouco, de tanto apertarmos os dentes." (pág. 81).
Amei, total minha zona de (des)conforto! Recomendadíssimo!