Evy 30/11/2022“
Sem que eu soubesse,
as coisas não ditas haviam crescido como
cogumelos venenosos
nas paredes do silêncio”.
- Lya Luft in O Silêncio dos Amantes
O título da obra me chamou atenção logo de cara e ao começar a ler, esse poema da Lya Luft não saía da minha cabeça. Karine Asth, nos traz a história de Ana que, casada há pouco tempo quer adiar a maternidade para cuidar de sua carreira como editora que está começando a deslanchar. Porém após uma desconfiança de gravidez e um resultado negativo que deixou seu marido triste e ela própria muito frustrada, decide que quer começar a tentar engravidar.
É nesse ponto da narrativa que a autora vai trabalhar um tema bastante delicado e importante. Ana se depara com a dificuldade de conceber e passa a enfrentar ressentimentos na relação ao marido que vão dar um curso totalmente diferente a vida super planejada que tinha em mente. Sem uma comunicação ativa, entrando em brigas e discussões que começam pequenas e se transformam em monstros, Ana começa enfrentar o espectro da solidão em um casamento que até então era totalmente harmônico.
Intercalando passado e presente, a autora com muita sensibilidade, constrói um percurso de autoconhecimento da personagem principal que é cheio de imprevistos, de momentos melancólicos e encorajadores. Ana perdeu a mãe muito pequena e traz dessa relação um amor muito forte e uma imensa saudade. Tem uma rede de apoio importante com o pai, a irmã e amigos, mas é doloroso em muitas partes sentir a falta que a mãe de Ana faz em momentos cruciais.
A narrativa de Karine Ash me conquistou logo nas primeiras páginas, suas palavras carregam uma sutileza e melancolia que eu adoro e aborda de forma bastante sensível assuntos muito importantes e atuais, envolvendo um tabu social que é a maternidade. O livro me trouxe reflexões importantes e confesso que tive que trabalhar a empatia com Ana em diversos momentos da leitura, pois tive muita raiva em alguns momentos, mas foi importante demais justamente por isso.
Recomendo a leitura!