tguedes2 27/06/2023
"Manseh!"
"A história falhou conosco, mas não importa". Essa é a frase que abre o romance Pachinko, de Min Ji Lee. Quando eu li a última frase de Como Tigres na Neve, esse trecho de Pachinko veio a minha mente quase que imediatamente. E eu pensei: "É, a humanidade age como se, de fato, não importasse".
O enredo de Como Tigres na Neve se passa desde a anexação da península da Coreia ao Império Japonês, até a conquista da independência e a divisão da Coreia. É um livro que tem com objetivo mostrar ao mundo a história da Coreia enquanto Nação, fora de uma perspectiva eurocentrista.
Quando comecei a me interessar mais pela historia da Ásia, num geral, fiquei bem surpresa com o que me deparei. Aí foi quando percebi como meus conhecimentos de história eram eurocentrados. Quando estudamos a Segunda Grande Guerra na escola, temos acesso, basicamente, ao fervor político do que acontecia na Europa, com o Holocausto, principalmente. Não nos são apresentadas as atrocidades que o Japão, que lutou ao lado da Alemanha nazista e da Itália na guerra, empreendia na península coreana. Aqui, nessas páginas, eu tive contato com esse recorte da história.
Os personagens criados por Juhea Kim são sublimes. O modo como eu me apeguei a esses personagens é surreal. Eles são tão bem construídos que, por vezes, eu conseguia antecipar o que eles estavam pensando. Você sente como se eles fossem seus amigos de longa data. O modo como as histórias deles vão se interligando e se conectando é incrível.
Acho que a parte da narrativa que mais me impressionou foi a que se situa nos acontecimentos pós independência, principalmente no que tange a divisão da Coreia. E isso nos traz de volta a frase inicial de Pachinko. O mundo atual tem a tendência da polarização, da demonização de extremos. A gente olha para o passado e parece que não aprendemos nada. O modo como a Coreia do Norte, até hoje, é demonizada e descreditada. As fake news que rolam sobre o país. E percebam, não é meu objetivo falar que a República Popular da Coreia é perfeita. Provavelmente não é. Mas porque nossas visões são baseadas em dois pesos, duas medidas? Porque não falamos sobre os integrantes de partidos comunistas que foram fuzilados pela Coreia do Sul no fim do século XX? Porque não falamos sobre os absurdos e violência que ocorrem no lado capitalista da Coreia?
No fim das contas, parece que não importa mesmo.