D/\RK 13/08/2023
Primeira experiência com Raphael Montes: ????
Algumas pessoas simplesmente possuem o dom para algo. E esse autor com certeza é uma dessas pessoas. Apesar de se tratar de um assunto tão pesado quanto polêmico, Raphael Montes consegue despertar nossa curiosidade sobre a história. É uma mistura de "Meu Deus, não consigo ver, mas alto lá, quero saber no que vai dar.."
O que mais influenciou minha classificação aqui não foi a história em si, pois é PESADÍSSIMA (aliás, para quem vai iniciar essa leitura, aconselho a pesquisar os possíveis gatilhos. Sem dúvidas pode ser classificado como 18+ por conta das descrições gráficas), mas sim o que me afetou: o claro desprezo pela vida alheia e os diversos ataques gordofóbicos.
Acho que é isso que posso dizer sobre o geral.
Agora quero guardar citações e comentar algumas (alerta de possíveis spoilers ?):
"Hoje, tentando resgatar a origem do caos, vejo que não é tão fácil. Com o tempo, a gente perde mesmo a noção das coisas: o que estamos fazendo, por que motivo, onde e quando a merda teve início." (Pág. 4)
"Se você não é rico, não tem nada. Isso os livros não dizem. Se seu pai não é dono de um negócio, você não tem nada. Outra coisa que os livros não dizem. Se você não tem quem te indique, você não tem nada. Nem isso os livros dizem." (Pág. 10)
-> Isso aqui é super real nos dias de hoje.
"Por trás de cada prato existe a morte. As pessoas preferem fechar os olhos pra isso, mas ela está lá. A morte." (Pág. 57)
-> Pesado. Me pegou ?
"Certa vez, num banheiro público, havia um poema:
'Tudo na vida tem
Um começo
Um meio
E um f¢d@-s?.'" (Pág. 60)
"Leitão sempre dizia: A melhor maneira de escapar de uma responsabilidade é colocar a culpa em alguém maior do que você. Por isso, as religiões fazem tanto sucesso. Dá certo alívio às pessoas imaginar que existe uma entidade superior no controle dos momentos de felicidade e tragédia." (Pág. 88)
-> ???? E essa alfinetada!
"As pessoas vinculam loucura a maldade e racionalidade a bondade. Segundo estatísticas, doze por cento das pessoas ditas normais são criminosas, assassinas ou perigosas. Enquanto isso, só três por cento das pessoas ditas loucas têm potencial ofensivo considerável. Isso significa que normais matam muito mais do que loucos. Se no mundo houvesse mais loucos, haveria menos violência." (Pág. 110)
-> Raphael traz muita informação interessante e textos reflexivos. Eu gostei muito disso.
"Certa vez, num banheiro público, havia um poema:
'qualquer coisa
pode ser poesia se
você der
enter de vez em
quando.'" (Pág. 151)
-> Sobre se arriscar a tentar..
"'O conceito de canibalismo está poluído, tem uma carga semântica muito negativa. Você fala nisso e as pessoas logo pensam no sujeito que se ofereceu para ser devorado na internet, no Hannibal Lecter e nos malucos que fizeram coxinha de carne humana pra vender lá no Nordeste. Coxinha, pelo amor de Deus! Que jeito de cozinhar uma iguaria!'" (Pág. 157)
-> Quis guardar essa citação pelo motivo de ser uma referência a minha cidade. Não que seja uma boa referência, claro. Sem nomes citados ?
"'Não precisa se condenar, garoto. Essa é a mesma ignorância que faz com que você não mate um bicho, mas coma a carne dele disponível no mercado. A gente vive com uma dieta inconsistente, suavizada pelo sabor. Temos pena do porquinho e da vaquinha, mas adoramos um bom bife ancho. Meu pai já dizia que a beleza sempre ocorre no particular, enquanto a crueldade prefere a abstração. Ele estava certo.'" (Pág. 188)
-> Cara, essas questões nos pegam lá no fundo ?
"Quando tudo ao seu redor começa a ruir, você precisa se manter inabalável, como um farol indicando o caminho adiante no meio da escuridão." (Pág. 210)
"A ideia de fundo do poço é um tanto consoladora. Quando você acha que chegou lá, só pode subir. Acontece que o fundo não existe, sempre pode ser pior." (Pág. 213)
-> Sempre tenho isso em mente ?
"A vida é assim: você precisa ter a cara esfregada no esgoto e sentir o cheiro da morte para começar a tentar se redimir." (Pág. 223)
-> Quem já passou por isso, sabe.
"Quando é que as crianças descobrem que aquilo que a mãe delas coloca no prato é tipo a Peppa Pig? Quando é que percebem que assamos e comemos a Galinha Pintadinha? E como é que elas não ficam indignadas com isso?" (Pág. 260)
-> Essa citação foi a que mais me tocou!
Eu tentei o vegetarianismo por um tempo e não consegui. Por falta de persistência, acredito. Então fiquei só com o frango. Há 12 anos não consumo carne vermelha por escolha minha. Depois desse livro, decidi dar mais uma chance e tenho consumido menos frango. Motivo? Indignação, Raphael Montes.