Lauraa Machado 25/03/2021
Decepcionante - e ainda tem um romance problemático
Nota verdadeira: 2,5
Estou um pouco surpresa pelo quanto eu detestei ler esse livro, mas não deveria estar. É o quarto de New Adult que eu leio e o quarto que eu detesto. Acho que o gênero não combina em nada comigo! Não teria dado menos de 3 estrelas, já que é um livro independente, mas achei necessário pelo livro ter algo problemático que me incomodou bastante.
Mas antes quero falar das coisas boas! Acho que a ideia da autora de fazer a Jasmine não ser "fácil" foi legal e o Ivan teve, na maior parte do tempo, uma personalidade interessante. Também acho que a relação da Jas com sua família foi bacana (ainda que imatura) e que teve várias cenas bem feitas e instigantes.
Só isso de bom que eu tenho a dizer mesmo. O livro precisava ter passado por uma edição pesada. Muita coisa nele é inútil e enrolação pura. Não tiro nota por causa disso, já que é algo comum vindo de um livro que foi publicado sem editora, mas não posso evitar mencionar. Tem cenas que poderiam ter sido resolvidas em uma ou três páginas e que levam umas vinte. Vinte! Páginas inúteis para uma conversa que leva menos de cinco minutos. Isso foi irritante no começo, mas se tornou insuportável depois. Poderia ser um livro com menos de 300 páginas fácil na mão de um editor competente.
Teoricamente, era para a Jasmine ser uma mulher adulta de 26 anos, mas ela é extremamente infantil. Que tipo de pessoa de 26 anos guarda tanto ódio a troco de nada por um cara com quem ela nem conversa, a ponto de não conseguir nem pensar no nome dele normalmente sem ter que xingá-lo constantemente? Esse ódio dela pelo Ivan foi uma das coisas mais forçadas que eu já vi na minha vida. Aliás, a narrativa em primeira pessoa também se tornou insuportável depois de um tempo, porque a Jasmine fala palavrão em praticamente todas as frases. Não sei se era uma tentativa da autora de fazer ela soar descolada, só ficou tosco.
O mais triste é que a personalidade dela e a história de tudo que tinha acontecido com ela até então tinha muito potencial, mas a autora não aproveita nada. Mesma coisa com toda a questão por trás do que aconteceu com o Ivan e sua parceira. Parece que, depois de um tempo, a autora largou qualquer ideia de enredo que não tivesse como único propósito avançar o romance.
Por falar em romance, essa foi a parte que mais me decepcionou. Primeiro, porque eu detesto livro em que o interesse romântico é perfeito, não tem um defeito e, se tiver, é porque entendemos errado. Pelo amor de Deus, é tão difícil assim fazer um interesse romântico que seja imperfeito e que não apareça sempre na hora certa com exatamente aquilo de que a protagonista precisa em todos os momentos? Um cara que tenha algum "defeito" físico ou dias ruins e que precise tanto do apoio dela quanto ela dele?
Não é só isso o problema do romance. O que mais me incomodou, para falar a verdade, foram algumas cenas aleatórias (por exemplo aquela depois da Jas tomar vodka) soltas à toa e sem grandes consequências ou impacto, quando era para ter. Ou seja, os personagens fingirem que nada estava acontecendo foi forçado, principalmente quando já estavam em um ponto em que, para transformar em romance, não faltava nada. Então acabou se tornando uma enrolação que não convenceu.
Mas se só tivesse isso de ruim no livro, eu nem teria me incomodado tanto. O que me fez abaixar a nota foi algo verdadeiramente problemático: o Ivan é muito controlador. É, aliás, perigosamente controlador. Mais de uma vez no livro ele fala que "vai contar até três para a Jas fazer o que ele quer e, se ela não fizer, ele vai forçá-la depois do três." Quero muito saber por que alguém acha que isso é aceitável. Como é possível achar que é romântico um cara que tira o poder de decisão de uma mulher, principalmente sobre coisas básicas, como para onde ela vai e onde ela vai dormir?
Tem algo pior ainda, mas pode ser spoiler, então pula para o próximo parágrafo se quiser evitar. Jasmine sofria assédios pelo correio e por mensagens em redes sociais e, quando Ivan descobre sobre o assédio, ele diz "eu vou te matar" para a Jas. Várias vezes. Ele a culpa pelo assédio, briga com ela por ela não ter contado, como se não fosse completamente direito da vítima decidir ou não quando e como vai denunciar ou contar sobre o assédio, e depois ainda a força a ir dormir na casa dele, mesmo ela, uma mulher adulta de 26 anos, dizendo que não quer.
Isso é inaceitável para mim e é bem pior quando romantizam. Outro problema que eu tive com a relação de Ivan com Jasmine foi que todo desenvolvimento dela, todo crescimento e toda evolução que ela teve na história foram forçados pelo Ivan. Ela mesma não tomou nenhuma atitude porque decidiu, não aprendeu nenhuma lição e nem mudou de ideia sobre nada sem que ele estivesse lá, empurrando ela na direção que queria. Nada nesse relacionamento é saudável, mas foi escrito para parecer que é.
O resto do livro não é muito bom, achei que a patinação no gelo foi bem superficial e que nem deu vontade de estar no lugar dela (como achei que daria). O enredo é simples, meio sem graça, e a enrolação absurda nas cenas mais inúteis me fez cansar de ler super rápido. Acho que a partir da página 150, eu passei o resto do livro querendo abandonar. Nem a única cena de sexo dele me animou. Pelo contrário, várias descrições foram esquisitas, com metáforas bizarras e mais forçação de barra.
Mas vamos ao que eu aprendi com esse livro? Aprendi a me manter o mais longe possível de todos os livros de New Adult ou da autora daqui para a frente. Aprendi também que a minha vontade de ler um livro sobre patinação ainda não passou e que quero assistir Spin Out na Netflix de novo para me esquecer do enredo desse livro com uma história bem melhor.