Yasmin O. 30/09/2023"- Irmão Harry, convido-o para uma pequena diversão. Somente para loucos. A entrada custa a razão. Está pronto?" - O lobo da estepe - Hermann Hesse
Depois de um hiato de mais de 20 anos (li Sidarta na adolescência e só lembro que não funcionou comigo), overdose de Hermann Hesse nas férias.
Tudo começou com Knulp - Três histórias da vida de um andarilho, que encontrei num sebo e me deixou com uma vontade incontrolável de lê-lo, eu que sou entusiasta do ato de se locomover à pé, sem lenço e sem documento, atividade que além de agradável e terapêutica fornece insights reveladores, terminando o livro às lágrimas depois do afetuoso posfácio do Ferrez, chamado "Como Hermann Hesse salvou minha vida".
Depois li Rosshalde, um livro tocante que parte da premissa da decadência de um casamento e seus desdobramentos familiares para refletir sobre a infelicidade de viver uma vida indesejada em prol das convenções e o esforço que é se libertar dessa resignação.
A voz tranquila e melancólica do Hesse nesses dois livros conversou muito comigo, com seus personagens solitários e reflexivos, fiquei em estado de encantamento com a escrita.
Então por indicação de uma amiga cheguei em O lobo da estepe, que assim como os anteriores, possui um teor autobiográfico. Pode-se dizer que dei uma pirada (até mesmo porque, como já nos adverte o autor, é apenas para os loucos), achei a atmosfera diferente dos anteriores, uma coisa mais pesada e obcecada, um personagem também deslocado e reflexivo, mas à beira do abismo, com os pensamentos e as ações tumultuados em meio às inúmeras versões de si que carrega(mos), aflito, flertando com o suicídio, que inicia uma jornada interior muy loca contra a autodestruição. Amei a piração da segunda metade, especialmente no Teatro mágico (qualquer similaridade com o grupo de mesmo nome não é mera coincidência), não resisto a um nonsense, se tiver um toque endiabrado então, me ganhou rs. Fiquei o livro todo com a imagem mental daquele personagem do filme Fragmentado, coitado do Hesse, minha imaginação precisa de limites 😅. Aquele livro que só cresce após à leitura.
"Mas eu me sentiria contente se alguns desses leitores pudessem perceber que a história do Lobo da Estepe, embora relate enfermidade e crise, não conduz à destruição e à morte, mas, ao contrário, à redenção". Hermann Hesse, 1961.