de Paula 08/09/2022
O avesso dos coroas, o contrário dos caretas
Voltar a uma aventura dos Karas anos depois de ter lido pela primeira vez dá aquele sentimento gostoso de nostalgia, além de enxergar pontos da história que na época eu era nova demais para perceber. Após as aventuras da Droga da Obediência, que se tratava de uma alegoria ao que aconteceu com o nosso país, principalmente com os jovens na ditadura militar, em Pântano de Sangue a narrativa retorna para os problemas do crime organizado, tráfico de drogas, tráfico de couro de jacaré, desmatamento, queimadas, evasão de divisas, máfia, extermínio dos povos originários e o poder dos grandes latifundiários no Pantanal mato-grossense, que vimos intensificado nos últimos anos de um desgoverno completo sobre a fauna, flora e povos originários no Brasil. O livro foi publicado pela primeira vez em 1987 e não vemos muitas mudanças em 35 anos!
Claro que deus ex-machina é um recurso utilizado à exaustão nos livros da série, mas não vejo problema. O intelecto e habilidades dos meninos são recursos literários que permitem histórias serem contadas dentro de um contexto muito maior, como a falta de confiança na polícia, por estarem integrados ao crime organizado, por exemplo. Pedro Bandeira reflete toda a sociedade em histórias de aventura adolescentes, mostrando para juventude como temos força para juntos mudarmos o mundo, com base em muito conhecimento, claro!
Foi muito bom voltar nesta jornada, lembrar de algumas coisas e perceber ter esquecido completamente outras. Ver Miguel sendo sensato, Crânio aventureiro, Calu visionário, Magrí sendo a menina mais incrível da literatura infantojuvenil e Chumbinho sendo um pestinha perspicaz. Além disso, a valorização por histórias em nosso território mostram que a independência é nossa, não importa o quão mal estejam usando e administrando nosso país, ele ainda é nosso. A lição dos Formigas-Paradas é linda e vale a pena toda a jornada até chegar ao segredo tão real dessa tribo. Que possamos usufruir do que é nosso, mas respeitando quem chegou bem antes de cada um de nós.