Maria.Luiza 09/03/2019
A contradição da beleza marginal
Analisarei de forma diferente, com o que eu nunca li sobre essa obra, serei metonímica, a parte pelo todo, introduzindo mas figuras de linguagem, o que tenho a dizer é que o capitulo 31 dessa obra é um encanto metafórico.
Começa falando sobre um geômis uma espécie de mamífero roedor, parecido com um esquilo que vive em “cavernas” cavadas no solo. O geômis tenta se estabelecer na Cannery Row faz uma linda “casa” no terreno baldio entre o Laboratório de Doc, a Mercearia de Lee Chong e o “Palace”, a historia é aparentemente desconexa, mas na realidade é uma analogia a vida e ambiente em que se passa a historia. Como todo animal, instintivamente, tenta sobreviver e tem por finalidade a reprodução da espécie, acontece que embora tenha feito uma linda casa, essa deve virar um “lar” e para isso precisa ser composta por uma “família feliz”. O podre animal não alcança seu objetivo, ele construiu um sonho de “casa”,mas não consegue atrair uma fêmea para “formar uma família”, tenta, luta se machuca, mas... então desiste da Cannery Row, que é uma dessas ruas “desprezada” das cidades, mas que na realidade é um tesouro, antagonicamente “é um poema”, mas tb “um mau cheiro”, “um rangido, um tipo de luz, uma cor, um hábito, uma nostalgia, um sonho”, mas não os do tipo “socialmente aceito”. Para quem vive pela lei na natureza como o geômis não sobrevive, essa “lei da natureza”, é para nós, humanos, a “lei da sociedade”, o “esperável”, o “aceito”, quem segue essa lei, não “sobrevive” aquele “poema”.
O livro começou bem, e sua frase inicial é o resumo perfeito da historia: “Os habitantes são, como disse o homem certa ocasião, ‘meretrizes, cafetões, jogadores, e filhos da puta’ pelo que se referia a Todo Mundo. Se o homem tivesse olhado por outro ângulo, poderia dizer “santos e anjos, mártires e abençoados” e significaria a mesma coisa” essa é a beleza do livro, em um mundo desprezado habitado por pessoas marginalizadas, encontra-se o que é encantadoramente humano, o geômis é o contradito disso, é a metáfora para a “pessoa comum” adequada ao “socialmente aceito” e, portanto, não pôde ali sobreviver. Mas quanto se perde em “humanidade” acalentando o sonho do “socialmente adequado”?! E é nesse ponto de vista que quem vive em Cannery Row são “santos e anjos, mártires e abençoados”, são “parias”, porém pelo que há de mais humano neles sobrevivem. São encantadores, pedras preciosas jogadas a “sarjeta”, e a sarjeta é justamente parte fundamental deles a sarjeta é o “sonho”. Lá não se vive a fantasia entre o desejo e o resultado, ninguém ali quer “conquistar o mundo” e preserva-se “virtuosos”, pois, isso em si, é uma grande e ilusória contradição, nas palavras de Doc “Sempre me pareceu muito estranho. As coisas que admiramos nos homens, bondade e generosidade, franqueza, honestidade, compreensão e sentimento são os elementos do fracasso em nosso sistema. E as características que detestamos, astúcia, ganância, cobiça, mesquinharia e egoísmo, são os fatores do sucesso. Enquanto os homens admiram as qualidades que citei, adoram o resultado das outras características”... Em Cannery Row não se vive de ilusões, essas se perderam no caminho até aquela rua, lá apenas se vive.
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