spoiler visualizarNina 31/10/2021
A Bruxa de Portobello| Paulo Coelho
Como nos livros anteriores, escolhi um não muito famoso, dessa vez do autor Paulo Coelho, cujo título me chamou a atenção. Após o título, minha atenção foi mantida ao perceber o formato escolhido: narração em terceira pessoa através de depoimentos. Normalmente este estilo não me agrada, de forma que foi uma surpresa passar pelos primeiras entrevistas sem perceber o tempo passar.
Os personagens que aparecem fazendo declarações subjetivas ao longo de todo livro, buscam retratar quem era Athena e como ela havia entrado em suas vidas, e a partir dos contrastes entre as narrativas mostrar sua história e seus pensamentos. É interessante perceber que ao final do livro a verdade é construída a partir de meias verdades, e que a primeira não importa tanto quanto as segundas.
?Ela me dizia que estava aprendendo à medida que me ensinava.?
No início temos Athena, cujo nome verdadeiro é Sherine Khalil. Filha de ciganos, adotada por um casal de libaneses e que, após prever que ?o inferno estava próximo?, convenceu sua família a sair do Líbano, justo na época em que a guerra civil teve início (1975?1990). Levada para Londres, seu pai logo se restabeleceu. Aos dezenove anos, Athena decidiu largar a faculdade e ter um filho com seu namorado, e é a partir de seu filho que a história se desenrola.
Athena percebe que não importa o quanto tente ocupar todo o seu tempo, sempre há ?espaços em branco?, onde ela percebe que lhe falta algo. Pensando ser por não saber sobre sua mãe biológica, Athena parte em busca de suas raízes e encontra pessoas que a fazem crescer pessoal e espiritualmente: um jornalista interessado na história do Conde Drácula, uma mulher entendida em conhecimentos sagrados, um mestre de caligrafia e uma atriz. O interessante é perceber que Coelho não passa a imagem fantasiosa que temos de bruxas, ora velhas más com rugas e que comem criancinhas, ora pessoas fantásticas que são capazes de magias que só a literatura poderia permitir. Ele cria algo mais natural, quase reproduzindo o mundo que conhecemos, e passa ao leitor conhecimentos que religiões pagãs compartilham.
?Todos buscam um mestre perfeito; acontece que os mestres são humanos, embora seus ensinamentos possam ser divinos ? e aí está algo que as pessoas custam a aceitar. Não confundir o professor com a aula, o ritual com o êxtase, o transmissor do símbolo com o símbolo em si mesmo.?
Outro ponto que traz à reflexão é a ligação da arte com o espiritual. Durante toda a jornada de Athena ela busca preencher seus ?espaços em branco? com dança e caligrafia, e com o tempo entendemos como isso está intimamente ligado a quem somos e a como vemos a vida.
?Se o teatro é um ritual, a dança também. Além disso, é uma maneira ancestral de aproximar-se do parceiro. Como se os fios que nos conectam com o resto do mundo ficassem limpos do preconceito e dos medos. Quando vc dança, pode se dar ao luxo de ser você.?
Em um tempo marcado por tanta intolerância, seja ela política ou religiosa, nada fez mais sentido do que ler sobre amor ao próximo, independente de quem é esse alguém. Então deixo um último trecho e duas sugestões: Amem e dancem.
?O amor não é um hábito, um compromisso, ou uma dívida. Não é aquilo que nos ensinam as músicas românticas ? o amor é. É esse o testamento de Athena, ou Sherine, ou Hagia Sofia: o amor é. Sem definições. Ame e não pergunte muito. Apenas ame.?