Lauraa Machado 05/04/2021
Não é muito bom, mas nem é muito ruim
Eu não sou a maior fã da Sarah J Maas, principalmente depois de tudo que me incomodou profundamente no livro Corte de Névoa e Fúria e no resto daquela série. Por isso, não tinha a mínima intenção de ler outro livro dela. Mas aí eu fiz um acordo com uma amiga que leria só esse primeiro livro, só para dar uma outra chance para uma série dela, e foi por isso que li. Alguns amigos estavam ansiosos pela minha resenha, mas sinto desapontar vocês. Vai ser tão morna quanto esse livro.
Antes de mais nada, olhem bem para essa capa, para essa garota bizarra segurando duas espadas e parecendo feroz e assustadora. Olharam bem? Celaena é o completo oposto dela, não se deixe enganar. Ainda estou esperando a assassina aparecer, confesso. Esse é o pior problema do livro, na verdade, o fato de que ele se vende como algo e é o oposto. A autora faz questão de repetir um milhão de vezes que a Celaena é uma assassina, e só porque não há qualquer sinal disso no resto do livro. É até ridículo, me vi me perguntando várias vezes de quem ela estava falando ao dizer "a assassina fez isso" ou "a assassina fez aquilo". Celaena é assustadora no papel. Na realidade, ela é fraca e dispensável.
Além disso, seu desenvolvimento é completamente irrealista e incoerente. Ela é uma pessoa que passou um ano como escrava em uma mina de sal - o que teoricamente é impossível de sobreviver com sua sanidade - mas ela chega ao castelo e se preocupa mais com sua aparência e o fato de o príncipe ser bonito? Sério mesmo? Outra coisa que me incomodou bastante nela, além de sua vivência e sua reputação serem incompatíveis com sua personalidade de verdade, foi ela ser tratada como especial pelas coisas mais comuns e obviamente boas. Por exemplo, gostar de livros, música e cachorros. Que especial, né? A única garota no reino que gosta de livros, música e cachorros! Como ela é diferente das outras!
Eu suspeito que a autora forçou esse tipo de coisa para que a maioria dos leitores se identificassem com Celaena - e acredito que funcionou. Foi um truque seu para conquistar quem estava lendo, mas é tão incoerente, que não teve como me convencer.
Outra coisa que vende a história errado (como a capa) é a sinopse. Era para ser uma competição entre criminosos, mas a autora cansa de ter que desenvolver essa parte e só passa por cima, com resumos do que aconteceu. "Teve mais dois testes e eu fui bem." Não é justo colocar na sinopse algo tão instigante quanto essa competição e depois não fazer a menor questão de desenvolvê-la. E o que tomou mais foco no enredo? O romance entre Celaena e o príncipe, mais insosso impossível. Foi tão sem graça, aliás, quanto os próprios envolvidos.
Eu nem tenho nada contra o Dorian ou até mesmo contra a própria Celaena, só me incomodo sempre com esse jeito da autora de prometer demais e não cumprir. Para que exatamente ela teve que sair falando que a Celaena era uma assassina temida? Teria como contar a mesma história sem isso, o que teria sido bem mais convincente. Para que fazer ela passar um ano como escrava se depois ela não teria nenhum trauma, nenhum medo e não teria nenhuma repercussão? De novo, não teria mudado nada na história além de aumentar a credibilidade de tudo que acontece nela.
Nos agradecimentos (ou talvez na parte bônus de perguntas e respostas da minha edição), a autora diz que passou dez anos escrevendo esse livro. É verdade que é seu primeiro, mas em dez anos ela não conseguiu melhorar o desenvolvimento do livro? Ela não percebeu que ficar chamando alguém de assassina sem nunca ter nenhuma prova disso era uma má ideia?
O enredo também é dispensável, infelizmente. Quando eu estava escrevendo o resumo em meu caderno, percebi que a ordem dos acontecimentos é aleatória, porque a grande maioria deles tem poucas consequências concretas. Também achei que o clímax, a batalha final, foi confusa e decepcionante. Queria que tivesse mais ação, mais momentos de tensão (que não fosse por romance tosco) e queria principalmente ter visto a protagonista com mais atitude e salvando a si mesma.
Juro que teve coisa da qual gostei. Até gostei da Celaena e de sua personalidade, ainda que não fizesse sentido. Gostei também de Chaol, bem mais do que esperava, e adorei a Nehemia e sua relação com Celaena.
Está longe de ser o melhor livro que já li de fantasia, mas também não é o pior. Talvez seja culpa minha, de ler praticamente qualquer livro desse gênero sem me importar tanto se é bom ou não, mas já li tantos piores, que amenizou o efeito desse. Por incrível que pareça, eu leria o segundo pelo menos. O problema mesmo é ele custar dinheiro e tempo, e eu não estar tão inclinada assim a investir mais em um livro da Sarah J Maas (e nem ter condições).
E eu já sei o que os fãs da série vão falar, porque me falam isso faz tempo. Esse é só o primeiro, ele não mostra nem um décimo de toda a dimensão que a história toma e que eu deveria ler pelo menos até o terceiro (provavelmente por causa da Aelin, né? Já sei o spoiler dela). Acontece que é responsabilidade da própria autora escrever um primeiro livro que me faça querer continuar. Ou até um segundo. É muito ruim pensar que eu tenho que ler mais de mil páginas e ainda pagar mais de 150 reais (sim, o dólar tá alto) para só então começar a gostar de uma série. Esse não foi o pior livro de fantasia que eu já li, mas existem tantos melhores, no mesmo estilo, mas bem mais competentes desde o primeiro livro. Não dá para continuar investindo nessa série por uma promessa que só vai valer depois.
Como eu falei, não estou abandonando a série, quero ler o segundo sim, ainda mais que me disseram que é bem melhor que o primeiro. Só não faço questão de ler rápido agora ou tão cedo. Não é como se eu tivesse dinheiro para comprar qualquer livro e tenho outras prioridades quando tiver. Se alguém quiser me mandar o box de presente, super aceito! Haha, mas vou demorar um pouco para ler o segundo livro.